Jornal Estado de Minas

Vereadores de BH apresentam propostas inusitadas e até mesmo inviáveis

Amanda Almeida
Imagine-se numa cidade de ruas feitas com lixo reciclável e sem mão dupla. Nos carros que circulam por ali, não é permitido fumar ao volante. Já quem anda de ônibus pode pegá-lo gratuitamente rumo ao estádio de futebol em dias de jogos. Em frente a cada escola, há um radar e seus alunos podem fazer excursão ao inusitado Museu da Sexualidade. Em qualquer canto desta cidade, é proibido dar comida aos pombos, frequentar raves e até comprar refrigerante em garrafas PET. Parece estranho ou, no mínimo, curioso? Eis a BH que os vereadores rascunharam em dezenas de projetos de lei.
Desde a posse, os vereadores da atual legislatura apresentaram 1.504 propostas para a capital. Entre elas, há tentativas de melhorias para uma cidade dinâmica e problemática, não raro absurdas e nitidamente inviáveis. Muitas nem sequer puderam tramitar porque afrontam a Constituição. Outras foram apresentadas como meras peças de promoção política, sem empenho do próprio autor na aprovação. O prefeito Marcio Lacerda (PSB) se encarregou de vetar um bocado. Outra parte não caiu no gosto dos próprios vereadores e algumas ainda tramitam na Câmara.

É o caso do projeto de Paulinho Motorista (PSL), que pretende transformar as ruas de mão dupla da capital em mão única. A ideia foi apresentada no mês passado. Como justificativa, o vereador relata que, a cada dia, são emplacados oito mil carros e as vias ganhariam mais fluxo com a mudança. Se é viável ou não ter ruas apenas de mão única, não há outros municípios que adotaram a proposta para servirem como exemplo. No entanto, Paulinho garante ter uma carta na manga: “Todas as ruas do Hipercentro de BH já são de mão única, o que mostra que é factível”. Se for necessário manter alguma mão dupla, a proposta determina que os sentidos da via sejam separados por barreira física.

A BH dos vereadores também não teria postes elétricos. Tramita em primeiro turno proposta de Fred Costa (PHS), recentemente empossado deputado estadual, que prevê a substituição de todo o cabeamento da cidade por uma rede subterrânea. Em sua justificativa, Costa leva em consideração o aspecto visual e a segurança: “Gera uma enorme poluição visual, além de ser extremamente perigoso, pois na época de chuvas, com caída de árvores e ventos fortes, alguns cabos se rompem”.

Tempo certo

Já os semáforos da capital, de acordo com projeto de Joel Moreira (PTC) que passa pelas comissões, devem ter temporizador com contagem regressiva. Para o vereador, a instalação da espécie de cronômetro nos sinais garantiria segurança aos pedestres e motoristas. “Ambos se sentem inseguros ao atravessar um semáforo, já que não sabem se ele vai fechar ou abrir”, descreve na justificativa. Juiz de Fora, na Zona da Mata, é um dos municípios que já adotaram a ideia.

Como o próprio apelido indica, legislar sobre o trânsito é mesmo a preferência de Paulinho Motorista, ex-condutor de ônibus. Tramita em primeiro turno também proposta que prevê a construção de vias suspensas. Em outras palavras, a Avenida Antônio Carlos, por exemplo, daria acesso a bairros e a via construída acima dela levaria o condutor diretamente de uma ponta a outra. “Para ter as ideias, percorro toda a cidade de carro. Observo e ‘plim’, vem uma ideia.”