A vontade de ser um município já está nas placas: quem passa pela Avenida Pedro I, em Belo Horizonte, vê em duas delas a indicação de trajeto para Justinópolis, distrito que pertence a Ribeirão das Neves. Algum desavisado pode até achar que se trata de uma cidade, mas não é. Pelo menos por enquanto. Os moradores de Justinópolis bem que tentaram por duas vezes a emancipação – em novembro de 1992 e outubro de 1995 –, mas menos da metade dos eleitores compareceram às urnas, o que por lei inviabiliza o resultado. Nos dois plebiscitos, mais de 90% daqueles que votaram optaram pelo sim.
O comerciante Neliton Miranda Chaves, de 30 anos, é um dos que defendem a emancipação de Justinópolis, segundo ele, “largado” pela prefeitura, que não tem investido, por exemplo, em obras para melhorar ruas e avenidas do distrito, boa parte delas esburacadas. “Sempre fomos excluídos de Neves. Todo prefeito que chega, melhora lá (parte central de Neves), enquanto aqui é na base do protesto. Os moradores de lá não vêm aqui e nós não vamos lá”, argumentou.
Discurso semelhante adotou a salgadeira e ambulante Maria de Lourdes de Jesus, moradora da parte de “lá” de Ribeirão das Neves. “Nunca vou a Justinópolis. Tudo que preciso, resolvo aqui ou em Belo Horizonte”, reconhece ela, que é contra a emancipação do distrito por acreditar que Neves ficará “esquecida”. Ao contrário de Neliton, no entanto, ela reclama que faltam investimentos no lado em que vive.
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Morador da menor entre as três regiões que compõem Neves, o Veneza, o pedreiro José do Patrocínio Silva, de 55 anos, é contra a divisão da cidade onde vive há 17 anos. Para ele, a criação de um novo município fará pouca diferença prática para a população. Ao contrário, apenas vai aumentar o gasto de verbas públicas com o pagamento de salário para vereadores e prefeito, além de causar uma divisão na renda destinada a Neves.
As alegações de falta de investimento em Justinópolis foram contestadas pela Prefeitura de Ribeirão das Neves. De acordo com a assessoria de imprensa, no início deste ano foram protocolados em Brasília projetos para o município orçados em R$ 300 milhões, dos quais R$ 109 milhões para o distrito. Além disso, desde 2005 teriam sido pavimentados 350 quilômetros de ruas, inauguradas uma unidade de pronto atendimento médico e três escolas e construídas duas avenidas sanitárias. Atualmente, a prefeitura conta com arrecadação anual de R$ 100 milhões, incluindo repasses federais e estaduais e o recebeimento do Imposto sobre a Propriedade Predial Territorial Urbana (IPTU).