Marcada para amenizar as tensões internas do Democratas, a convenção nacional - que só aconteceria no fim deste ano e, portanto, terá caráter provisório até lá - deve expor ainda mais as fraturas da sigla. O encontro que será realizado na tarde de hoje, em Brasília, servirá de radiografia da desidratação que o partido sofrerá. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, um dos quadros mais importantes do DEM, não vai continuar na legenda e, além disso, arrastará outros parlamentares com ele para um novo grupo, o Partido da Democracia Brasileira (PDB). As ausências de Kassab e dos que o acompanharão são dadas como certas e, juntando os cacos, os integrantes do ex-PFL tentam, novamente, recuperar o fôlego na política nacional.
Os grupos do ex-senador Jorge Bornhausen (SC) e do atual presidente da legenda, Rodrigo Maia (RJ), buscaram um consenso na tentativa de estabilizar o partido até dezembro próximo, colocando o senador José Agripino (RN), um dos fundadores do então PFL, para comandar a sigla. O discurso oficial está afinado. Os integrantes do DEM, independentemente do lado que defendem, garantem que o pior momento passou.
O líder do partido na Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto, diz que o dia é de festa, sem espaço para constrangimentos. "O prefeito Gilberto Kassab não confirmou presença, mas também não avisou que faltaria", avisa o parlamentar baiano. "Mais do que um acordo, o nome do senador José Agripino foi um consenso em torno de uma ideia", completa ACM Neto.
Todo os esforços estão concentrados para que o Democratas seja o protagonista do dia, apesar da possibilidade, ventilada ontem, de que Kassab pudesse anunciar a saída do partido até hoje. Pessoas próximas ao prefeito destacam que a chance de isso acontecer é remota porque a notícia atrapalharia a divulgação da nova executiva nacional, e Kassab criaria um desgaste desnecessário com caciques da sigla, incluindo Bornhausen, padrinho político do paulista. De acordo com essas fontes, o anúncio oficial está previsto para o dia 23.
O coro ressaltando a agenda positiva do DEM é tão forte que até um jantar foi marcado, ontem, na casa da senadora Katia Abreu (TO), para arrumar os últimos detalhes sobre o que será dito hoje. Katia, aliás, é a integrante do Democratas no Senado mais cotada para seguir Kassab. A mudança, porém, não acontecerá agora, e ela participará do evento. A avaliação de integrantes do partido é de que a presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) ainda tem quatro anos até as eleições estaduais para se mover.
Até os parlamentares aliados de Gilberto Kassab reforçam a corrente de que o partido ficará bem mesmo com a saída do prefeito. O deputado mineiro Marcos Montes, um dos integrantes da sigla mais próximos de Kassab, foi escolhido para ser secretário-geral e defende a tese de que o problema está superado. Segundo ele, o Democratas passou por crises piores que essa e é preciso entender a posição do prefeito.