Dilma, com os afagos à oposição, repete Lula. No primeiro ano de governo, e naqueles que se seguiram – mais do que não discriminar a oposição fechando o cofre, foi o caso de afagá-la. Ao final do segundo mandato, o presidente Lula (PT), saiu do Planalto com popularidade recorde na história brasileira, deixando também como legado à sucessora uma oposição em flagelos. Adorava repetir: "Eu duvido que tenha um prefeito de qualquer partido nesse país que possa dizer porque eu sou de tal partido o presidente nunca me atendeu´ (...) Qualquer que seja o partido, ou qualquer que tenha sido o prefeito ou o governador, foram tratados em igualdade de condições nesse país”.
Governado pelo então recém-reeleito tucano, Geraldo Alckmin, o estado de São Paulo foi aquele que mais se beneficiou dos investimentos da União, não apenas em números absolutos. Foi também o estado que logo no primeiro ano do governo petista mais se beneficiou da relação previsão e execução orçamentária: dos R$ 5,48 bilhões previstos, foram executados R$ 4,8 bilhões, 88,14%. No Paraná, Roberto Requião (PMDB) conseguiu liberar R$ 1,3 bi, 80,15% dos R$ 1,6 bi previsto. Já o Rio de Janeiro de Rosinha Garotinho (PSB) foram executados R$ 2,16 bi – 80,09% – dos R$ 2,69 bi previstos. É verdade que Requião e Rosinha, respectivamente, desde o primeiro turno e no segundo turno, apoiaram o petista. Mas não foi o caso de Germano Rigotto (PMDB), governador eleito no Rio Grande do Sul, nem de Aécio Neves (PSDB), governador eleito de Minas, respectivamente quarto e quinto estados no ranking daqueles que em 2003 mais conseguiram receber os investimentos previstos no orçamento.
Da mesma forma, a Bahia e Pernambuco – a primeira de Paulo Souto (PFL), o segundo de Jarbas Vasconcelos, do PMDB de oposição a Lula – receberam 71,24% e 70,89% dos investimentos em capital (aquisição de bens ou construção) e dos recursos destinados à manutenção dos bens. No conjunto, dos dez estados mais beneficiados pela execução orçamentária, sete eram de oposição.
O cenário político eleitoral que emergiu das urnas sugeria outro agravante: a oposição dos governadores nos maiores estados brasileiros – de São Paulo e de Minas – além dos governadores de outros nove estados administrados pelo PSDB e pelo velho PFL, hoje DEM. O PMDB, que havia integrado a chapa presidencial derrotada de José Serra (PSDB), tinha conquistado os governos de cinco estados, dois dos quais – em Pernambuco e no Rio Grande do Sul – oposição regional ao PT.
Quem se apressou em prever a ingovernabilidade, errou feio. Mas a política dá voltas. Ao assumir, Lula estreitou a interlocução sobretudo com os governadores tucanos. Governadores costumam controlar as bancadas federais. Mais do que isso, dentro do PSDB privilegiou a relação com o mineiro Aécio Neves. Antevia o enfrentamento no ninho tucano e, com isso, enfraquecia o adversário comum que acabara de derrotar nas urnas.