Com uma bagagem recheada de intenções e nenhuma proposta concreta, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, desembarca neste sábado em Brasília e começa a escrever a tão prometida “nova página, novo capítulo” da relação com a América Latina com um atraso de mais de dois anos depois de tomar posse na Casa Branca. A visita não conseguirá concretizar os principais interesses dos dois países: a consolidação do desejo de Washington de as Américas formarem uma frente anti-China e o apoio à intenção brasileira de se tornar integrante permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Um acordo para desobrigar turistas brasileiros de visto não passou da fase de negociação. Até o banco de dados comum sobre previdência foi deixado de lado por ser considerado muito complexo.
Na visita ao Brasil, Obama vem com a missão de aumentar a venda de produtos para o país e para a América Latina como uma oportunidade de reacender a convalescente economia dos EUA, que ainda se debate para se livrar das turbulências da quebra do setor financeiro em 2008. “Cada US$ 1 bilhão que exportamos ampara mais de 5 mil empregos aqui em casa. É por isso que, no ano passado, eu coloquei como meta duplicar nossas exportações de bens e serviços até 2014”, escreveu Obama em artigo publicado no jornal USA Today.
De acordo com o presidente Obama, o objetivo é “fortalecer a relação entre as duas maiores democracias e economias do continente”. “Com cerca de 200 milhões de pessoas, uma classe média crescente e expansão da renda per capita a quase 7% ao ano, o Brasil importa mais bens e serviços dos Estados Unidos do que qualquer outro país”, emendou no artigo. Em suma: cada dólar exportado é um incentivo potencial para criar empregos. Obama citou que, no ano passado, as exportações para o Brasil cresceram mais de 30%, superando US$ 50 bilhões. Este valor, segundo ele, representam mais de 250 mil postos de trabalho nos EUA.
China Para garantir a maior exportação, Obama precisa encarecer os produtos vendidos pela China, o maior adversário de Washington na arena de comércio internacional. Por isso, na conversa privada que terá com a presidente Dilma Rousseff, o americano reforçará a necessidade de o Brasil embarcar no esforço dos EUA em fazer com que o governo chinês valorize o yuan, a moeda local, para reduzir a guerra cambial. Mas o governo brasileiro está pouco sensível a essa empreitada e não quer se colocar como inimigo do gigante asiático.
Sabendo dessa resistência, Obama buscará apoio no meio empresarial frisando a concorrência desleal que representam os bens chineses. Ele terá encontro reservado com 10 executivos após o evento patrocinado pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI). Pelo lado brasileiro, participarão os presidentes da Vale, Roger Agnelli; da Petrobras, Sérgio Gabrielli; da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy; e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Os nomes dos americanos não foram divulgados. Obama também quer uma parceria clara na área de fornecimento de petróleo que pode incluir parcerias para exploração do pré-sal.
Com esse cenário, a presidente Dilma Rousseff pretende capitalizar a visita e abrir espaço para negociar o levantamento de barreira de comércio e de investimento, a começar pela área de regulação. O acordo mais importante a ser assinado neste sábado é o que trata de rotas internacionais de voo, com intenção de aumento gradual até ter todas as vias aéreas preenchidas em 2015.
(Colaborou Ivan Iunes)