Jornal Estado de Minas

Dilma Rousseff estreia no jogo global com a visita de Obama

Denise Rothenburg
Brasília – Em janeiro, tão logo Dilma Rousseff tomou posse como presidente da República, o governo brasileiro entrou em contato com a Embaixada dos Estados Unidos e o Departamento de Estado norte-americano para programar a visita da nova chefe de Estado ao presidente Barak Obama. A resposta foi melhor do que esperavam os diplomatas: "É ele quem faz questão de ir ao Brasil". O simples gesto se traduz numa série de simbolismos. O mais forte, segundo analistas e autoridades do governo, é a transformação da presidente Dilma em principal interlocutora na América Latina. "Sabemos que o ponto mais importante da visita é mesmo o Brasil. É o primeiro país da América do Sul que o presidente Obama visita. Só esse gesto já se traduz no sucesso da visita", avaliava ontem um alto executivo do governo federal.
Para os diplomatas, os destaques serão o encontro privado entre os dois presidentes no Palácio do Planalto e o coquetel no Alvorada. Até então, as visitas de Estado de Barak Obama aos países da América Latina tinham se restringido ao México. No caso do Brasil, a relação do presidente Lula com os Estados Unidos não era tão boa neste governo quanto foi nos tempos em que George W. Bush era presidente. E houve pontos de extrema divergência, como na crise de Honduras e na questão do Irã, onde os americanos olhavam com certa desconfiança as declarações brasileiras em favor do regime de Ahmadinejad. O fato de Dilma ter se posicionado de forma diferente do antecessor no caso Sakineh, a iraniana condenada à morte por apedrejamento, foi visto com bons olhos pelas autoridades norte-americanas. "Abriu-se ali a oportunidade para vir restabelecer uma relação prejudicada pelo antecessor. Lula e Obama não se davam tão bem, nem se falavam tantas vezes. Agora, há a oportunidade de restabelecer o diálogo cara a cara e trazer o Brasil de volta", afirma Thiago Aragão, analista internacional da Arko Advice.

Da parte do governo brasileiro, entretanto, há todo o cuidado em afirmar que a visita não pode ser vista como indício de guinada na política externa. Apenas uma "mudança de estilo" e de "personalidade", conforme classificam os diplomatas. Mas ninguém nega a colocação privilegiada de Dilma no tabuleiro internacional e como aliada preferencial dos Estados Unidos no Mercosul. E por várias razões: dos Brics — o grupo Brasil, Rússia, Índia e China — o Brasil é único ocidental, capaz de uma interlocução mais fluida com os americanos. São dois países multinacionais, multirraciais, que têm eleições periódicas, alternância de poder e uma base de valores comuns. Além disso, há vários interesses comerciais de ambas as partes, como o petróleo do pré-sal e o etanol.

Dilma tem consciência desses interesses e de seu papel. E, ciente de suas potencialidades pessoais e do país, começa a montar a agenda internacional. Este mês, irá ao Paraguai para comemorar o aniversário do Mercosul e receberá o presidente da Venezuela, Hugo Chavez. Em abril, fará ainda uma visita de estado ao Chile, antes da reunião dos Brics, na China.

Quanto aos Estados Unidos, há da parte do governo brasileiro o cuidado em não deixar que as discussões sobre a inclusão do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, ou mesmo as questões econômicas ligadas ao etanol, sejam vistas como ponto de partida para avaliar o sucesso da visita. Afinal, é o primeiro contato mais direto entre Dilma e o presidente dos Estados Unidos. E a vontade de todos é a de que a conversa de hoje no Planalto seja uma estreia positiva de Dilma como "global player".