A candidatura do Brasil para um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) segue sem o apoio da maior potência global, os Estados Unidos. Em novembro, ao visitar a Índia, o presidente norte-americano, Barack Obama, endossou a reivindicação do país, idêntica à brasileira. No sábado, quando esteve em Brasília, Obama limitou-se a uma declaração oficial de “apreço” à aspiração do Brasil. Ao contrário do que possa parecer, porém, isso não provocou grande frustração, segundo especialistas em relações internacionais. De um lado, os Estados Unidos avançam um passo em direção ao apoio. De outro, a diplomacia brasileira adapta o discurso das expectativas. “O Brasil é a favor da reforma do Conselho em primeiro lugar, depois de sua candidatura”, afirmou o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.
Luiz Felipe Lampreia, que foi ministro das Relações Exteriores no governo Fernando Henrique Cardoso, analisou o discurso do presidente norte-americano de forma otimista. “Os Estados Unidos nunca havia sido tão incisivos”, disse ontem o ex-diplomata logo após sair do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Na avaliação de Lampreia, houve uma guinada nos rumos da diplomacia brasileira com o governo Dilma Rousseff em relação ao antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Ele acredita em grandes avanços nas relações entre Brasil e Estados Unidos. “Lula tomou decisões polêmicas e acho que os EUA optaram por passar por cima disso ao demonstrar simpatia à candidatura do país ao Conselho”, completou.
Para o sociólogo Demétrio Magnoli, a declaração do presidente norte-americano passou longe de decepcionar. “Obama foi além da expectativa razoável”, disse. Ele destacou que a política externa de Lula só afastaou o Brasil do Conselho de Segurança, sobretudo pela aproximação com ditadores. “O Brasil tem conquistado notoriedade no cenário geopolítico global com o crescimento econômico”, adicionou, o que credencia a reivindicação brasileira. “O Conselho é hoje anacrônico, reflete um mundo de quando ele foi criado, em 1945”, criticou o sociólogo. Segundo ele, a entrada de mais países, como Japão, Alemanha, Índia e Brasil, é mais do que razoável e nós temos chances de alcançar esse objetivo. “No entanto, o Brasil tem de romper vários obstáculos”, afirmou.
Discurso no Itamaraty
No sábado, em almoço no Itamaraty, ao falar para empresários e políticos, Obama disse ser favorável à reforma da instância da ONU, mas não declarou apoio na forma incisiva que esperava parte da diplomacia brasileira. O Conselho tem 15 membros. Apenas cinco são permanentes e com direito a veto: Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China. Os demais são rotativos e têm mandatos de dois anos.
O ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Roberto Abdenur está entre os que esperavam claro apoio norte-americano a vaga no Conselho de Segurança. Mas tampouco se decepcionou. “Uma declaração mais forte teria sido o ideal. Mas, do ponto de vista diplomático, o foi bastante representativo. É um avanço considerável”, afirmou. “O apoio para um trabalho na reformulação do Conselho é um compromisso importante dos EUA”, completou.
Os recados dados pelos presidentes Dilma e Obama vão além do pedido de apoio pela conquista de uma cadeira permanente, segundo o professor de relações internacionais do Ibmec-DF Creomar Souza. “Eles simbolizaram o anseio do Brasil em obter o reconhecimento de seu potencial político e econômico por parte de um dos maiores atores do cenário internacional”, avaliou.