Arruda ainda não prestou nenhum depoimento oficial no inquérito que tramita no STJ e investiga o chamado “mensalão do DEM” no Distrito Federal. Quando foi ouvido na prisão, em março de 2010, o ex-governador permaneceu em silêncio. No encontro em setembro, Gurgel teria pedido uma ajuda informal ao ex-governador, mas nenhum dos presentes diz o que Arruda ganharia em troca.
Explicações
A reportagem procurou Gurgel, Camanho e Arruda, os únicos que participaram da reunião. Na versão apresentada pelo procurador Alexandre Camanho, Arruda o procurou para intermediar uma conversa com o procurador-geral da República. “O governador manifestou interesse em colaborar com as investigações e pediu para encontrar o procurador Roberto Gurgel. O procurador-geral perguntou onde estariam as provas e os documentos dessa colaboração e agradeceu. Nada além disso”, disse.
Camanho, que confirmou à reportagem a data do encontro em 2 de setembro, afirmou que em nenhum momento se discutiu um acordo de delação premiada, benefício que dá ao investigado o direito de colaborar com as investigações em troca de diminuição de uma eventual pena. Segundo ele, foi Arruda quem pediu para não levar os advogados. Dentro do Ministério Público, sabe-se que Camanho já havia procurado Arruda em julho, a pedido de Gurgel, para discutir uma ajuda às investigações.
A reportagem tentou falar pessoalmente com Gurgel para saber o teor da conversa com o ex-governador do DF, mas ele se negou a responder. Por intermédio da assessoria de imprensa, o procurador-geral da República disse que a versão dele é a mesma de Alexandre Camanho.
A reportagem indagou Gurgel por que aceitou conversar informalmente com Arruda, já que, segundo o próprio Camanho, não se discutiu a concessão da delação premiada. Gurgel disse, por meio da assessoria, que teve uma conversa “preliminar” com o ex-governador e que entendeu que não era “útil” transformá-la em depoimento. Por isso, afirmou Gurgel, o encontro não está nos autos do inquérito no STJ. Questionado se a procuradora Raquel Dodge foi informada sobre o encontro secreto, Gurgel não respondeu. Disse só que trabalha “em conjunto” com ela.
Já Arruda não quis falar sobre o assunto. Seus advogados, que ficaram de fora da reunião, dizem que “desconhecem” o encontro. Até hoje aguarda-se a denúncia à Justiça contra os envolvidos no escândalo, que estourou em 2009 na “Operação Caixa de Pandora” com base em depoimentos de Durval Barbosa, delator do esquema. Obrigado a deixar o DEM, Arruda foi cassado e passou dois meses preso.