O ex-deputado estadual Pinduca Ferreira (PP) passou a dirigir seu veículo Gol prata empoeirado com muito mais alegria pelas ruas do PTB, o bairro de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde o ex-parlamentar mantém reduto eleitoral. Apesar de avesso a entrevistas, exala confiança no retorno à Assembleia Legislativa, depois da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que impediu a aplicação da Lei Ficha Limpa nas eleições de 2010. "Só falo depois que voltar", disse
Com a decisão da Corte, Pinduca, condenado a três anos de inelegibilidade pela Justiça Eleitoral em 2008 por abuso de poder econômico, depois de oferecer churrascos para eleitores na cidade, pode deixar de ser "ficha-suja", status que lhe custou o registro para nova candidatura à Assembleia Legislativa no ano passado. O ex-parlamentar, que concorreu sub judice, recorreu da condenação pela organização das festas e aguarda recurso no próprio STF. Caso seja considerado elegível, o ex-parlamentar, que conseguiu votos suficientes para ocupar uma cadeira na Assembleia, tomará posse. Se o recurso for negado, Pinduca permanecerá fora do parlamento.
Enquanto espera a decisão do Supremo, que não tem data para ocorrer, o ex-parlamentar administra o vasto patrimônio que acumulou como ex-empresário do setor de hortifrutigranjeiros, fazendeiro e durante os mais de 15 anos de vida pública (dois mandatos de vereador e dois de deputado estadual). Dinheiro não é problema para o ex-deputado, mas a nova empreitada vem gerando dor de cabeça.
Depois da condenação, Pinduca decidiu vender os veículos que utilizava para transporte de moradores da cidade a hospitais, postos de saúde e enterros. Mas ninguém quer comprar os automóveis. Ontem, em um dos galpões que o ex-parlamentar possui no PTB, a reportagem contou 24 veículos, entre ambulâncias, Kombis e um ônibus, todos em mostruário. O ex-deputado colocou um funcionário especificamente no local para negociar a venda dos automóveis. "Está difícil. Ninguém quer comprar", diz o empregado, que pediu para não ter o nome revelado.
Além de conhecido pela realização dos churrascos, Pinduca era famoso também pelo fornecimento de transporte. Não chegou a ser processado por compra de votos, mas a Justiça o impediu de rodar com os veículos, por falta de manutenção. Com o nome ex-parlamentar e um telefone pintado, os automóveis eram uma espécie de “disque transporte” do Pinduca.
No PTB, até quem não tem boas relações com o ex-deputado prefere evitar críticas a ele. "Quem tem que decidir sobre o futuro do Pinduca é a Justiça Eleitoral", afirma o dono de sacolão Enocke Nunes, de 53 anos, que já prestou serviçõs ao ex-deputado e hoje trabalha para o PT, que governa a cidade e tem o PP do ex-parlamentar na oposição. Segundo Romilda Bento Silva, 36 anos, também comerciante, Pinduca foi o melhor vereador do bairro. "Ajudava os doentes. Muitas pessoas dependiam dele", diz.
Já Marineide Alexandre da Silva, outra comerciante, afirma não ter conhecido o ex-deputado, mas diz saber que pessoas do bairro gostavam do serviço prestado por Pinduca. “Sempre que precisavam, o carro estava lá", diz. Agora, no entanto, se quiserem votar novamente no ex-deputado, em possíveis novas eleições, os moradores do PTB terão que ver qualidades diferentes no ex-Rei das Ambulâncias.
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