Inspirado nos exemplos bem-sucedidos da Itália e dos Estados Unidos, o Ministério Público Estadual (MPE) de Minas, em parceria com a Advocacia Geral do Estado (AGE), está confiscando o patrimônio de organizações criminosas especializadas em fraudar recolhimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), a principal fonte de recursos do governo estadual. Há muitos anos os governos italiano e norte-americano confiscam bens de mafiosos. Aqui no Brasil, embora o dispositivo esteja previsto em lei, ainda é pouco usado. Mesmo assim, o governo mineiro incorporou ao patrimônio público, no período de 2007 a 2010, a cifra de R$ 530 milhões. Uma parte foi recuperada em dinheiro vivo, mas o grosso vem do bloqueio judicial de bens móveis e imóveis. A lista inclui fazendas, casas, carros importados de luxo, terrenos, ações ao portador, computadores, avião e até pedras preciosas. Embora a ação seja considerada um avanço, o rombo do ICMS nos cofres públicos ainda é gigantesco. Na última semana, o Estado de Minas teve acesso exclusivo a uma planilha de maus pagadores feita pelo governo. Apelidada de lista suja, o documento reservado lista 1 mil empresas devedoras do tributo. Com dívidas que variam de R$ 3 milhões a R$ 2 bilhões, o rombo já superava a casa dos R$ 28 bilhões em 2010, segundo o último cálculo da AGE.
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Ranking mostra as empresas em Minas que mais devem ICMSOperações vedam vazamentos nos cofres públicosGovernadores debatem com Mantega redução do ICMSNos golpes mais grosseiros, as firmas simplesmente deixam de recolher tributos. Nesse caso, os valores comercializados são contabilizados em “caixa 2”, burlando a Receita Estadual. Por outro lado, há casos em que são montados esquemas complexos. O objetivo é esconder o patrimônio pessoal dos fraudadores. Com a ajuda de advogados, os empresários transferem para o nome de laranjas parte ou todos os bens e, depois, alegam não ter como bancar os débitos tributários.
Notebooks Para o MPE, uma das operações mais bem-sucedidas teve como alvo os negócios do Grupo Nacional Mercantil Computadores e Suprimentos de Informática Ltda. Dono das marcas Info 2, Multimídia e Max Computadores, com 29 lojas em Minas, o grupo tinha, em 2008, dívida de ICMS de R$ 85.861.442,10. Convocada para negociar, a empresa alegou que não tinha recursos para arcar com o débito.
Quando estourou a Operação Castelhana, da Polícia Federal (PF), descobriu-se que o Grupo Nacional integrava a pasta de clientes do advogado tributarista e ex-deputado federal Juvenil Alves, acusado de ser o mentor de esquema de sonegação conhecido como blindagem patrimonial. Na época, todos os envolvidos foram presos, mas, logo depois, soltos pela Justiça.
Pelo esquema de Juvenil, o grupo transferiu todo o seu capital, incluindo o patrimônio pessoal dos donos da firma para o nome de laranjas, conforme sustenta a AGE. Mesmo com a revelação do golpe, a empresa entrou na Justiça para negociar a dívida com o Estado.
Depois de muitas idas e vindas, o Estado conseguiu recuperar os valores em processo movido na 3ª Vara de Feitos Tributários, em Belo Horizonte, no qual o Grupo Nacional foi representado pelo escritório Vinício Kalid Advocacia Empresarial. Pelos cálculos do MPE, R$ 9.168.720,00 foram quitados com a entrega de 2.024 notebooks, destinados à AGE, ao MPE , à Secretaria de Estado da Fazenda e Defensoria Pública.
Avaliada em R$ 26 milhões, parte de um prédio pertencente ao patrimônio do Grupo Nacional, localizado na Rua da Bahia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, também foi confiscada pela Justiça. Do restante do débito, uma parte foi paga em parcelas em dinheiro, e a outra entrou no programa de perdão de dívida tributária do governo. O imóvel será destinado à Secretaria de Estado de Defesa Social. A ideia é que ele seja usado para abrigar uma escola de formação de agentes penitenciários.