Jornal Estado de Minas

Congresso

Deputado Jair Bolsonaro acumula carreira repleta de declarações polêmicas

Alessandra Mello
Jair Bolsonaro (PP-RJ) está no 6º mandato, eleito com pouco mais de 120 mil votos - Foto: Paulo de Araújo/CB/D.A PressTirando as declarações polêmicas, nada mais notabilizou o deputado federal fluminense Jair Bolsonaro, de 56 anos, filiado ao Partido Progressista. Eleito pela sexta vez com pouco mais de 120 mil votos e sem nenhum grande projeto de destaque aprovado pelo Congresso Nacional durante todos esses anos de parlamento, o deputado ganhou projeção nacional esta semana ao tecer comentários preconceituosos contra negros e gays durante entrevista a um programa televisivo de humor. Despertou também a fúria de diversos segmentos da sociedade, passando pela Procuradoria-Geral da República, Ordem dos Advogados do Brasil, Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e movimentos de defesa dos direitos dos homossexuais e dos negros.
A Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco) também se manifestou, exigindo apuração de declarações racistas e homofóbicas feitas por parlamentares brasileiros. “A Unesco Brasil reafirma seu compromisso com valores universais de tolerância, respeito à diversidade e aos direitos humanos”. Até mesmo uma boa parte dos colegas de Parlamento de Bolsonaro repudiaram suas declarações, alvo, somente esta semana, de seis representações por quebra de decoro parlamentar na Corregedoria da Câmara dos Deputados.

O motivo foi a entrevista em que ele afirma não correr o risco de ver algum de seus filhos casados com uma negra, porque eles “foram muito bem educados”. “E não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu”, completou o parlamentar, que respondia pergunta feita por Preta Gil, filha do cantor Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura, uma de suas entrevistadoras no programa de televisão. No mesmo programa, Bolsonaro afirmou ainda ser contra a cota para negros em universidades públicas e disse que nunca entraria em um avião pilotado por um cotista. Para completar, disse ainda que nenhum de seus filhos corre o risco de ser homossexual, pois “tiveram uma boa educação” e que nunca iria a uma parada gay, porque o evento “promove os maus costumes”.

Em se tratando de Bolsonaro, nenhuma dessas declarações causa espanto. Por causa de outras tão polêmicas ele já sofreu 20 representações por quebra de decoro durante o exercício de seu mandato. O motivo é sempre o mesmo, ataques a mulheres, gays, vítimas da ditadura e defesa da tortura. Nem mesmo os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva escaparam da sanha do deputado. Lula foi chamado de ignorante, homossexual e analfabeto. No caso de Fernando Henrique, chegou a sugerir que ele fosse fuzilado. Em discussão com um representante de uma tribo de Rondônia, na Câmara dos Deputados, sugeriu que ele comesse capim para “voltar às origens”. Nesse embate, um dos índios jogou um copo de água na cara do deputado, que já foi militar e professor de educação física.

Desrespeito com a hoje ministra

A hoje ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, foi empurrada e chamada por ele de vagabunda durante discussões entre eles no Congresso Nacional. O bate-boca ocorreu em 2005, quando ela era deputada federal. “Jamais iria estuprar você, porque você não merece”, disse o deputado ao ser acusado por Rosário na época de incitar casos de estupro. Abalada, Maria do Rosário saiu chorando do salão da Câmara. Nada ocorreu com Bolsonaro, que, reiteradas vezes, já disse que o Congresso não tem moral para cassar seu mandato por quebra de decoro.

Em seus anos de Congresso, a maioria das propostas apresentadas por Bolsonaro diz respeito aos direitos dos militares da polícia e do Exército. Outros tantos tentam diminuir a maioridade penal, autorizar o porte de arma, aumentar o número de pontos que levam à cassação da carteira de motorista e diminuir a idade para a esterilização de homens e mulheres. O deputado já chegou a propor que a vasectomia e a laqueadura de trompas fossem usados como política de combate à miséria e à criminalidade. Para alívio, ele desistiu desse projeto, apresentado nos primeiros anos de mandato.

Surpreso com a repercussão negativa de suas últimas declarações, o deputado divulgou nota dizendo que houve um mal-entendido e que nunca fez comentários racistas contra ninguém. Em relação à acusação de homofobia, disse que apenas não faz apologia ao homossexualismo, por entender que tal prática “não é motivo de orgulho”. No entanto, Bolsonaro tem feito escola. Sua votação, ainda que não muito expressiva, tem aumentado a cada legislatura. No ano passado, teve 20 mil votos a mais do que nas eleições de 2006 e cerca de 31 mil a mais do que no pleito de 2002. Além disso, ele já tem dois filhos na política. Flávio Bolsonaro é deputado estadual pelo PP do Rio de Janeiro e Carlos Bolsonaro (PP) vereador na Câmara Municipal do Rio. Todos têm a mesma plataforma política. Como se não bastasse, ainda arrumou mais um companheiro no próprio Congresso Nacional, o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP), eleito com 211 mil votos. Para ele, os africanos são amaldiçoados e o homossexualismo é “uma prática promíscua”.
Procurado pela reportagem pelo celular e em seu gabinete na Câmara, o deputado federal Jair Bolsonaro não retornou os pedidos de entrevista até o fechamento desta edição.


Pérolas

"Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Não corro esse risco porque os meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu.”
Resposta do deputado ao ser questionado pela apresentadora Preta Gil sobre o que faria se o filho dele se casasse com uma negra

“Jamais iria estuprar você, porque você não merece”. Você me chamou de estuprador com que moral? Vagabunda.”
Frases ditas por Bolsonaro durante bate-boca com a então deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), hoje ministra dos Direitos Humanos

“Esse pessoal tem que ficar no lixo da história, tem que dar graças a Deus que os militares naquela época impediram a esquerda de tomar o poder.”
Comentário do deputado sobre as vítimas do regime militar

“O grande erro foi ter torturado e não matado.”
Comentário durante bate boca com integrantes do Grupo Tortura Nunca Mais

“Nas questões polêmicas, ela deveria ligar para o meu celular para decidir o voto dela. Mas começou a frequentar o Plenário e passou a ser influenciada pelos outros vereadores.”
Reclamando da ex-mulher, Regina Bolsonaro, que foi eleita vereadora na década de 1990 e votava sem seu consentimento

“Um traficante que age nas ruas contra nossos filhos tem que ser colocado no pau de arara imediatamente. Não tem direitos humanos nesse caso. É pau de arara, porrada. Para sequestrador, a mesma coisa. O objetivo é fazer o cara abrir a boca. O cara tem que ser arrebentado para abrir o bico.”

“Deveriam ter sido fuzilados uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.”


Projetos



Permite comercialização e uso de armas de fogo.

Revoga dispositivo que prevê pena para quem priva a criança ou o adolescente de liberdade, procedendo à apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária.

Inclui como crime hediondo o roubo de veículos automotores.

Reduz para 21 anos a idade que permite esterilização voluntária e revoga o dispositivo que exige o consentimento do cônjuge em caso de sociedade conjugal.

Estabelece que o disparo de arma de fogo em caso de legítima defesa própria ou de outrem não se configurará como crime inafiançável.

Exclui da relação de circunstâncias atenuantes em casos de crime o fato de o agente ter idade entre 18 e 21 anos.

Exige que os civis, de ambos os sexos, coloquem a mão direita sobre o lado esquerdo do peito durante a execução do Hino Nacional e apresentação da Bandeira Nacional.

Dispõe sobre a realização de laqueadura tubária e vasectomia para fins de planejamento familiar e controle de natalidade.