Jornal Estado de Minas

Após polêmica envolvendo Lula, governo de MG bloqueia banco de provas

Após partidos de oposição considerarem que questão de exame teria difamado Lula e o PT, governo de Minas tira do ar dados usados na elaboração de testes, que passarão por revisão

Leonardo Augusto Alessandra Mello
O banco de dados utilizado para elaboração de provas da rede de ensino público do estado de Minas Gerais será retirado do ar para revisão. A decisão foi tomada pela Secretaria de Estado da Educação depois de partidos de oposição reclamarem da inclusão, em um exame do Programa de Avaliação de Aprendizagem Escolar (PAAE) 2011, de questão de múltipla escolha mostrando charge em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria distribuindo dinheiro a supostos parlamentares.
Conforme o teste, que pede uma análise da charge, a resposta correta seria a de que ela “sugere, ironicamente, uma relação entre os movimentos sindicais da década de 1980 e o ‘mensalão’, refletindo sobre o processo histórico que levou os mesmos personagens de uma luta pela valorização do trabalhador à corrupção política”. Lula começou sua trajetória política no sindicalismo. Ao tomar conhecimento da questão, aplicada a alunos do primeiro ano do ensino médio, partidos de oposição ao governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB) na Assembleia divulgaram nota dizendo que, “como se trata de conduta caluniosa, a informação veiculada na pergunta e nas respostas, tidas como verdades históricas, visa a impor uma versão unilateral, improvável, sobre determinados fatos, porque não há nem sequer acusação formal a Lula”. A nota diz ainda que o governo trata o presidente Lula da forma “caluniosa”. 

Cronograma não muda

Com a decisão de suspensão do uso do banco de dados, que soma cerca de 56 mil questões, os professores serão obrigados a, como antigamente, formular as questões de cada prova. A Secretaria de Educação garantiu que os exames, tanto os da grade normal, como os do PAAE, feitos no início e ao final de cada ano, serão aplicados normalmente.

O banco de dados foi montado por uma empresa terceirizada. A secretaria, no entanto, preferiu não divulgar o nome do fornecedor do material e assumiu toda a culpa pelo episódio. Conforme a assessoria da secretaria, a questão foi incluída no banco no período entre 2007 e 2009 e, durante esses três anos, não ocorreu uma revisão do conteúdo. A partir de 2010, tudo o que foi incluído no banco foi revisto. A secretaria diz ser praxe não utilizar questões que remetam a aspectos religiosos, ideológicos e raciais.

O professor de história Frederico Alves Pinho, 31 anos, contratado pela empresa que montou o banco de dados da Secretaria de Educação e autor da questão que gerou toda a polêmica, contesta as críticas feitas pelo PT mineiro e outros partidos da oposição. Segundo Frederico, o material foi elaborado em 2007 e não tinha como intenção fazer qualquer juízo de valor negativo sobre o governo do então presidente Lula. Conforme o professor, a nota do PT mineiro contestando a questão sugere que ela foi feita de maneira deliberada pelo governo tucano para difamar a imagem de Lula e dos petistas. “Isso não é verdade.”

Formado em história pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Frederico afirma não haver na questão “nenhuma intenção subjacente a não ser fazer os alunos pensarem a respeito dos embates que existem na arena política”. Segundo o professor, a questão pede que seja feita uma análise da charge e tinha tudo a ver com o momento em que foi elaborada e publicada pela primeira vez em uma prova do PAAE. “A resposta não foi colocada como verdade histórica, mas ela é a melhor interpretação para a charge publicada”, defende Frederico. “Fui e sou eleitor do Partido dos Trabalhadores”, afirma.