Jornal Estado de Minas

Lixo e entulho tomam lugar do Memorial da Anistia


Mesmo com um investimento previsto pela União de R$ 5 milhões, a reforma do antigo teatro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no Bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte, está paralisada ou andando em ritmo de tartaruga. No local, reconhecido historicamente como ponto de encontro de resistência estudantil durante os anos de chumbo, já deveria estar funcionando a sede nacional do Memorial da Anistia Política, conforme foi anunciado há dois anos, em cerimônia oficial, no auditório Tancredo Neves, no Ministério da Justiça, em Brasília. Na ocasião, o então ministro da Justiça Tarso Genro (PT), hoje governador do Rio Grande do Sul, recebeu o termo de entrega do imóvel e determinou a criação do comitê de implantação do memorial. Mas, hoje, o cenário da obra é de abandono.

O passeio principal do casarão virou depósito de lixo a céu aberto. Do lado de dentro do imóvel, é possível ver um amontoado de entulho e tocos de árvores jogados para todos os lados. O forte cheiro de fezes e urina também virou rotina nos arredores da obra, segundo relato de vizinhos. Para piorar a situação, o terreno ao lado do antigo teatro, onde a prefeitura prometeu construir uma praça, virou moradia de mendigos, bêbados e usuários de drogas.

Apesar de ser um ponto nobre, o entorno do local ficou tão barra pesada que a prefeitura, na quinta-feira, foi obrigada a acionar a polícia para tentar desalojar o grupo de moradores de rua que ontem ainda estava vagando no lote abandonado, catando pedaços de madeira e se refrescando em uma bica improvisada. O único sinal de início de reforma é o telhado, que foi trocado com o travamento de madeira. No mais, o que se vê são tapumes de isolamento e uma lâmpada acesa em plena luz do dia, logo na entrada do antigo casarão.

Pelo projeto, estava prevista a construção de um prédio, mas ele nem sequer saiu do papel. De acordo com o cronograma oficial, em janeiro de 2010, deveria estar pronta a recuperação do antigo teatro, que abrigaria um museu com espaço para exposições e o centro de documentação, com capacidade para receber o acervo de 60 mil processos de indenização que deram entrada na Comissão de Anistia Política e todo o material (dossiês administrativos, fotos, imagens, relatos, testemunhos, livros, áudios e vídeos) coletado desde o ano passado em campanha de doação de arquivos privados e públicos referentes aos períodos de repressão, entre 1946 e 1988.

Seis meses depois, segundo o cronograma oficial, o prédio anexo onde funcionaria o centro administrativo também já deveria ter sido entregue, mas até o momento tudo está longe de ser inaugurado. Segundo a UFMG, a obra está sendo tocada em parceria com o governo federal e a Prefeitura de Belo Horizonte.

A prefeitura, por sua vez, informou que já fez o que lhe cabia: cedeu parte do terreno em contrapartida pelo convênio. A UFMG declarou que não fala sobre a obra e jogou a responsabilidade para o Ministério de Justiça. Sobre o terreno ao lado da obra, que virou ponto de moradores de rua, a prefeitura informou que vai cercá-lo para construir uma praça.
O Ministério da Justiça não se manifestou sobre o caso até o fechamento desta edição..