O deputado Dilzon Melo (PTB), primeiro-secretário da Assembleia Legislativa de Minas, desafiou nessa segunda-feira a Polícia Federal (PF) a provar que os R$ 70 mil apreendidos em seu gabinete não lhe pertencem. Na quarta-feira, o gabinete do deputado virou um dos alvos da Operação Carta Convite, que desmontou uma quadrilha especializada em forjar contratos de licitação com prefeituras. Embora não seja alvo direto da operação, Dilzon viu seu nome ser envolvido no caso depois que dois de seus assessores de confiança – Marco Reis, o Marcão, e Eugênio Mendonça, o Geninho –, foram parar na cadeia junto com mais seis acusados. Eles só foram libertados ontem, junto com outros seis acusados do esquema. No gabinete do deputado, a PF apreendeu documentos e a quantia em dinheiro vivo. Para os federais, o recurso é fruto de propina do esquema e, na realidade, pertence a Marcão e Geninho. Dilzon, mais uma vez, rechaçou essa versão. Ele garante que o dinheiro é de origem lícita e que possui documentos que comprovam isso. Segundo o deputado, a quantia veio da venda de um Ford Fusion e de aluguéis de imóveis. Sobre o destino, uma parte seria usada para compra de cavalos e a outra para pagar salários de trabalhadores da construção civil e lavradores de café.
O senhor vai entrar na Justiça para pedir restituição do dinheiro apreendido?
Logicamente. O dinheiro é fruto do meu trabalho, foi conseguido a duras penas. Além do dinheiro, vou requisitar os documentos que foram apreendidos. Meu cofre não é usado para guardar dinheiro de terceiros. Além disso, eu e meus advogados entendemos que houve ilegalidade na ação da polícia, já que o mandado de busca e apreensão não foi expedido por um desembargador.
São R$ 52,5 mil de um carro, um Ford Fusion inteirinho, ano 2008, com bancos de couro e apenas 24 quilômetros rodados. Vendi para um conhecido que mora em Boa Esperança e recebi o pagamento em dinheiro vivo. O restante veio de aluguéis de imóveis de diversas origens. Estou absolutamente tranquilo em relação a isso. Gostaria até de ser chamado para participar de uma acareação. Quero contribuir ao máximo com as investigações.
O senhor iria usar os R$ 70 mil em quê?
Em diversos negócios. Comprar animais, pagar apanhadores de café, fazer pagamentos quinzenais no ramo da construção civil. Não quero dizer que é rotina, senão dá a entender que sou prepotente, orgulhoso e que eu tenho muito dinheiro. Não é isso. É um dinheiro de trânsito normal pela quantidade de negócios que tenho. Não vejo nada de abusivo e de extraordinário nessa quantia.
E os dois funcionários? Com seis mandatos na ALMG, o senhor foi enganado?
Até então eram da minha confiança, senão não teriam sido nomeados. São pessoas que trabalharam comigo quando era prefeito de Varginha e que prestavam serviços relevantes em minha base eleitoral, pessoas conhecidas. Se tiver alguma ligação com essa situação, a decepção virá em doses muito fortes. Fiquei surpreendido com esse fato, mas a gente, que tem consciência tranquila, com 30 anos de vida pública e empresarial, quando acontece um negócio desses, parece que o mundo está caindo.
Não é algo anormal guardar tanto dinheiro vivo em cofre particular?
É comum se você for useiro e vezeiro dessa prática. Eu acho incomum porque para isso tem banco. Este caso é específico, em função da quantia que recebi. Como recebi esse dinheiro e tenho, por exemplo, de fazer pagamentos de colheita de café, por que eu ia depositar e depois no outro dia sacar? Então eu guardei esse dinheiro em espécie porque ia fazer pagamentos na próxima semana. Não faço isso como prática.