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Estado de Minas

Projeto ameaça mutilar a lei ficha limpa

Projeto apresentado na Câmara prevê revogação do critério que torna inelegível prefeito, governador ou servidor público cujo balanço tenha sido rejeitado por tribunais de contas


postado em 20/04/2011 06:00 / atualizado em 20/04/2011 06:57

A Lei Ficha Limpa nem bem comemorou seu primeiro aniversário – em junho ela completa um ano em vigor – e já começaram a surgir na Câmara dos Deputados propostas para alterá-la. Projeto de Lei Complementar (PLC) 14/11, do deputado Sílvio Costa (PTB-PE), que exerce seu segundo mandato, quer revogar a regra da lei que determina como critério para inelegibilidade a rejeição das contas dos governadores, prefeitos ou servidores públicos pelos tribunais de contas dos estados e da União. Pela proposta, a rejeição de contas só poderá tornar um candidato ficha- suja se ela for confirmada em sentença definitiva de órgão judicial colegiado. Na prática, a proposta do parlamentar ainda enfraquece o poder dos tribunais de contas, já que suas decisões não resultarão em nenhum tipo de punição, a não ser multa.

O juiz Marlon Reis, um dos coordenadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), entidade que liderou a campanha pela aprovação da Lei Ficha Limpa, disse que o projeto do deputado é "grosseiramente inconstitucional". Segundo ele, as atribuições dos tribunais de contas e as sanções para quem não aplica o dinheiro público de maneira correta estão previstas na Constituição da República. A Lei Ficha Limpa segue, no que diz respeito às contas, o que determina a Constituição, explica Marlon Reis.

"Esse projeto não é só infeliz tecnicamente. Ele também é uma tentativa de confrontar uma lei que surgiu de um desejo da população. É o primeiro, e sabemos que não será o único", rebate Marlon.

Para ele, essa é apenas uma das diversas tentativas que ainda vão surgir no Congresso Nacional para alterar a Lei Ficha Limpa. Ele conta que o MCCE montou uma central de acompanhamento de todas as propostas que tramitam na Câmara para evitar tentativas de alteração da Lei Ficha Limpa.

Além disso, de acordo com Marlon, o projeto ainda revela uma desconfiança em relação à atuação dos tribunais em todo o país. "Se o deputado acha que os julgamentos dos tribunais de contas não são justos e isentos, sugiro que ele faça uma lei para aprimorar sua atuação em todo o país."

Instâncias
Procurado pela reportagem em seu gabinete, o deputado não foi localizado para comentar seu projeto. Em sua justificativa, o parlamentar afirma que as "casas legislativas e os tribunais de contas" não são instâncias do Poder Judiciário. Apesar de incluir o tribunal em sua proposta, o deputado usa apenas as câmaras para justificar o projeto. "A atual Lei Ficha Limpa diz que, se um ex-prefeito tiver suas contas rejeitadas pela Câmara de Vereadores, estará inelegível. Acontece que, nos 5,5 mil municípios do país, a maioria das câmaras tem vocação governista. Isto significa que, quando um cidadão deixa de ser prefeito, no outro dia a maioria da Câmara já passa a ser sua adversária. Consequentemente ele sempre terá dificuldades de aprovar suas contas.” A rejeição das contas por câmaras não garante a inelegibilidade, a não ser que a decisão seja confirmada pelo tribunal de contas.


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