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Estado de Minas

Arquivos da Aeronáutica mostram que militares vigiavam padres no Araguaia


postado em 22/04/2011 14:06 / atualizado em 22/04/2011 14:07

Em 1981, nove anos depois do fim da Guerrilha do Araguaia, os militares temiam um novo enfrentamento na região. Eles acusavam padres de estarem incitando posseiros contra a ordem pública. Tudo começou com a morte de um fazendeiro e o ataque a policiais federais e técnicos do governo que atuavam no local regularizando terras. Documentos sigilosos narram que os religiosos tinham conhecimento detalhado da área, onde atuavam dando assistência aos moradores, inclusive fazendeiros. Segundo os militares, os padres tinham em caixa pelo menos US$ 1 milhão, vindos da França.

A situação no Araguaia é detalhada em um relatório feito pelo Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa), aberto ao público pelo Arquivo Nacional, em Brasília. No documento, os nomes dos padres investigados estão vetados, mas provavelmente se tratavam de Aristides Camio e Francisco Gouriou, que atuaram no Araguaia na época. Os religiosos foram presos acusados de incitar posseiros a atacar quatro agentes da Polícia Federal e servidores do Grupo Executivo de Terras do Araguaia-Tocantins (Getat). Ambos foram condenados a prisão com base na Lei de Segurança Nacional (LSN).

No documento da Aeronáutica, provavelmente feito antes da detensão dos religiosos, em 1981, os arapongas do regime militar narraram que os dois padres incitaram os posseiros contra os policiais, resultando na morte de uma pessoa. O relatório observa ainda que isso poderia causar um novo levante, como a guerrilha, finalizada em 1972. “O desencadeamento de operações de informações e a instauração de inquérito com base na LSN, tendo como fato gerador principal o incitamento contra a ordem pública, comprovaram o novo surto de agitação detectada na região do Araguaia”, narraram os agentes do governo à época.

O relatório conta que os padres tinham todo um levantamento da região, como cópias das certidões de propriedades, croquis das posses e invasões, além de cópias de processos judiciais impetrados por posseiros. “É de destacar, dentre casos, o levantamento estratégico do município de Conceição do Araguaia”, observou o agente. No documento, o órgão de informação ressalta que os religiosos agiam com grande eficiência no sentido de prestar assistência tanto aos posseiros quanto aos fazendeiros da área “em contraste particularmente com o Getat”.

Cartilhas

Na avaliação do cenário da região, os agentes de informação analisaram três campos: religioso, político e subversivo. No primeiro caso, eles observaram que havia distribuição de panfletos destinados a orientar o povo durante as missas, “estimulando os trabalhadores e a luta de classe”. No segundo, afirmaram que havia confecções de cartilhas políticas em que eram ensinados, por meio de xilogravuras, táticas e métodos de atuação subversiva no meio rural, “inclusive o modo de como agir e fazer uma emboscada”. O último ponto analisado fazia referência a reuniões entre os agentes da pastoral e posseiros, em que haveria aulas sobre socialismo, marxismo e proletariado.

Ao fim, os arapongas afirmam que os recursos financeiros recebidos pelos religiosos eram em sua maioria provenientes da França, por meio de algumas instituições, como o Partido Comunista Francês, a Fraternidade e os Missionários Estrangeiros de Paris. O total de dinheiro, segundo os agentes fizeram constar no relatório, era o equivalente a US$ 1 milhão, repassados em quatro anos. O temor dos militares por uma nova guerrilha não se justificava, pois não houve registros de movimentos armados na região.

Mas outra preocupação dos órgãos de informação da época se mantém, que são as questões fundiárias. No documento, os militares narram que, desde 1945, a situação é tensa, o que, segundo especialistas, tem perdurado até os dias de hoje.

Imbróglio político

Os dois religiosos foram presos, em 1981, na cidade de São Geraldo do Araguaia, entre Goiás e Pará. Aristides Camio e Francisco Gouriou foram condenados à prisão e ficaram dois anos detidos sob a ameaça de expulsão. Coube ao então vice-presidente Aureliano Chaves transformar o processo em judicial, evitando que o caso se tornasse político e causasse campanhas contra o Brasil no exterior. Os dois deixaram o Brasil em 1991, quando o país já passava pela redemocratização.

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