Em meio a uma salada de partidos políticos que pouco ou nada dizem ao eleitor, o voto de legenda para deputado estadual e federal em Minas Gerais nas eleições proporcionais das duas últimas décadas representou, em média, apenas 7,6% das preferências para a Assembleia Legislativa e 6% para a bancada federal. A escolha das legendas, que em 1994 representou em média 2% dos votos válidos para a Assembleia Legislativa e a Câmara dos Deputados, alcançou o seu ponto mais alto no pleito de 2002, quando 11,5% dos eleitores de Minas, em vez da escolha nominal para deputado estadual, optaram por partidos nas urnas. Naquela eleição, 8,7% dos eleitores preferiram o voto de legenda a um nome para deputado federal. Já em 2006 e em 2010, o voto de legenda declinou em relação a 2002: caiu, nessa ordem, para 9% e 8,3% para a Assembleia Legislativa e para 6,6% e 6,2% para deputado federal.
Exceção ao PT, o fato é que desde a redemocratização as grandes legendas demonstram incapacidade de gerar identidade com os eleitores. “No mundo, as identidades partidárias eram fortes e estão se fragilizando. Mas a máxima não vale para o Brasil, porque ela nunca foi forte no atual sistema”, considera o cientista político Carlos Ranulfo, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, referindo-se ao fato de o eleitor brasileiro votar majoritariamente nos indivíduos. “Nosso sistema é personalista. Só com muito esforço se constrói a legenda”, acrescenta Ranulfo, considerando que partidos à frente dos governos podem reforçar identidades, por meio de políticas públicas dirigidas, como foi o caso do PT com o Bolsa-Família.
Apesar de o PT ser a legenda que em todas as pesquisas de opinião política obtém os maiores índices de identidade partidária – em média 30% –, em Minas, petistas e o PSDB travaram, nos últimos três pleitos, disputa acirrada pela dianteira nos votos de legenda. Entre 2006 e 2010, petistas passaram na disputa à Assembleia Legislativa de 242.334 votos de legenda para 258.405, um crescimento de 7%. O PSDB caiu de 291.448 para 228.509, uma perda de 21,5%. Já na disputa para deputado federal, as posições se inverteram no período: o PT caiu de 221.426 votos de legenda para 207.137 – uma redução de 6,5% –, e o PSDB cresceu de 218.929 para 326.888 votos dados ao partido, um aumento de 49%.
Dois outros grandes partidos minguaram em votos de legenda no período. O PMDB caiu de 121.793 votos dados ao partido para deputados estaduais em 2006 para 93.955 em 2010, redução de 22,8%. Para a Câmara dos Deputados, o PMDB desceu, no período, de 59.518 para 44.502, queda de 25%. Mas de fato foi o DEM, no auge de sua crise, que mais esvaziou. Saiu de 147.003 votos de legenda para a Assembleia Legislativa em 2006 para apurar apenas 25.279 quatro anos depois, uma redução de 83%. Para a Câmara dos Deputados, obteve, em Minas, 55.973 votos de legenda em 2006, caindo para 23.986 em 2010, queda de 57%.
O voto para deputado estadual, o primeiro feito pelo eleitor – na sequência escolhe o deputado federal, o senador, o governador e o presidente da República –, tende a refletir, de certa forma, a identidade com candidatos fortes que concorrem para governador ou para a Presidência da República. Não à toa, em 2002, pleito em que Lula (PT) se elegeu, o PT obteve para a Assembleia Legislativa 433.148 votos de legenda, um crescimento de 182% em relação a 1998, quando conquistou 153.357 votos desse tipo. Naquele ano, em que a eleição nacional foi fortemente polarizada entre PT e PSDB e, em Minas, os tucanos lançaram Aécio Neves ao governo, o partido cresceu de 219.024 votos de legenda para deputado estadual em 1998 para 331.585 em 2006, um aumento de 51%.
Em 1994, nova evidência de que um candidato majoritário que se identifique com o partido tem potencial para engordar os votos de legenda nas eleições proporcionais. Na ocasião, o lendário Enéas se notabilizou ao concorrer pelo Prona à Presidência da República, e a então legenda nanica conquistou 14.427 votos para deputado estadual, contra apenas 677 votos dados aos seus candidatos.