Um vídeo postado há cerca de 20 dias na internet mudou a vida de Amanda Gurgel, 29 anos, uma professora de língua portuguesa da rede pública do estado do Rio Grande do Norte, filiada a um partido de extrema esquerda, o PSTU. Durante os nove minutos de duração do vídeo, Amanda Gurgel discorre de maneira serena contundente sobre a dura realidade da educação no Brasil. As imagens foram gravadas durante uma audiência pública na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte, que discutia a situação dos professores em greve há um mês.
O vídeo com o depoimento de Amanda já foi visto por mais de um milhão de pessoas e a professora, desde então roda o Brasil defendendo a melhoria dos investimentos na educação no Brasil. Nesta terça-feira, ela esteve em Belo Horizonte e falou para alunos e professores. Por onde passava, a potiguar era saudada, dava autógrafos, posava para fotos. ''Nunca esperei que meu depoimento causasse essa repercussão. Até porque não falei nenhum novidade'', comenta a professora.
Durante quatro horas Amanda debateu com professores e estudantes na Universidade Federal de Minas Gerais e conversou com os professores no sindicato da categoria. ''Quando me formei não estava incluído no meu sonho de ser professora morar em uma periferia e dar aula em outra. Também não estava incluído ter de pegar três ônibus precários para chegar ao local de trabalho e ainda ter de levar uma quentinha na bolsa por falta de dinheiro para ir almoçar. Mas hoje mais do que nunca quero continuar sendo professora'', afirma Amanda, atualmente afastada da sala de aula. Com problemas de saúde por causa do excesso de carga horária, ela trabalha na biblioteca e no curso de informática das duas escolas aonde lecionava até ano passado.
Sem ensaiar sua fala, Amanda conta que ouviu atentamente todos os discursos, inclusive o da secretária de Educação do estado, Bethania Ramalho, que discorria um rosário de números para justificar a baixa remuneração dos professores no estado. ''Resolvi então usar também um número irrefutável: o meu salário de R$ 930''. A fala da professora foi parar no youtube graças a um desconhecido que gravou seu depoimento e colocou na internet. No dia seguinte já era o assunto do dia nas redes sociais, chegando a figurar entre os temas mais comentados do microblog twitter no Brasil.
Amanda também contou que antes de virar uma espécie de heroína nas redes sociais não sabia nem mesmo o que era o Twitter, o microblog responsável pela propagação de seu vídeo. ''Achava que era apenas um estrangeirismo ligado a internet''. Depois do sucesso, passou a ser a adepta número um das redes sociais. ''Meu perfil no twitter é @@amandagurgel930, referência a meu salário de apenas três dígitos'', brinca a professora. Questionada sobre uma possível candidatura a deputada federal em 2014, a professora garantiu não ser esse seu principal objetivo. ''O PSTU não é um partido que se preocupa com cargos eletivos. Nossa preocupação maior é a mobilização do trabalhador para garantir vida digna para todos''. Criado em 1990 a partir da fusão de correntes socialista que romperam com o PT, a legenda não tem até hoje nenhum representante no Congresso Nacional.
Contra o tom de desânimo da maioria, a professora deixou um dever de casa: mobilização. Segundo ela, a repercussão causada pelo seu depoimento tem de ser aproveitada por todos que militam pela melhora da educação, não importante se dentro de um partido político ou em uma associação de pais de alunos. Uma das principais bandeira de Amanda é aproveitar a popularidade para trazer para o debate a principal bandeira dos professores, a imediata destinação de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro para a educação. A proposta atualmente em debate prevê o aumento progressiva do cerca de 1% aplicados na educação para 7% até 2011, chegando a 10% somente em 2014. ''Nossa campanha agora é conseguir 10% do PIB já para a educação''.
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