(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Itália cogita boicotar Copa de 2014 em repúdio ao caso Battisti


postado em 10/06/2011 06:00 / atualizado em 10/06/2011 07:40


Brasília – A batalha da Itália para que o ex-ativista de extrema esquerda Cesare Battisti cumpra a condenação não acaba com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que na noite de quarta-feira negou o pedido de extradição feito pelo governo italiano. Além de o país já ter declarado que vai levar o caso à Corte Internacional de Justiça de Haia, na Holanda, por considerar que foram violados os acordos entre os dois países, algumas autoridades políticas italianas cogitaram ontem até mesmo não participar da Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil, como forma de repudiar a decisão brasileira.

“Boicotemos o Mundial de Futebol de 2014. É um sinal que enviamos ao Brasil para a questão de Battisti, e também é um modo para tentar restituir a moralidade a todo o movimento futebolístico italiano”, afirmou o ministro da Simplificação Normativa, Roberto Calderoli.

Ele expressou que a decisão tomada pelos ministros do STF “é uma decisão que ofende”, e a qual classifica como “injusta e absurda”. “Um modo para fazer entender nossa indignação pode ser o de boicotar o Mundial de Futebol”, explicou.

A versão on-line do jornal italiano Corriere della Sera publicou ontem uma pesquisa com cerca de 8 mil internautas. Os dados apontam que 80% dos participantes da enquete são favoráveis ao boicote.

A Fifa reagiu e não descartou a hipótese de aplicar sanções à Itália, caso o país boicote a Copa de 2014. “Se isso ocorrer, para eventuais sanções, será o Comitê Executivo da Fifa que deverá tomar uma decisão em última instância”, disse o porta-voz da entidade, Pekka Odriozola. Ele recordou que, no passado, alguns países não participaram de competições da Fifa por motivos financeiros. Mas, segundo ele, nunca houve uma renúncia voluntária ou por questões políticas.

Críticas

No campo diplomático, as autoridades italianas também não pouparam o Brasil de críticas. O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, que não costuma se manifestar nas questões internacionais, classificou de “deplorável” a posição do Brasil de não extraditar Battisti. Segundo ele, tal decisão poderá causar danos na relação bilateral. Já o primeiro-ministro Silvio Berlusconi disse ter esperança “de que a Justiça ainda será feita”. “A Itália continuará empenhada e recorrerá às instâncias judiciais que forem necessárias para garantir o respeito aos acordos internacionais que aproximam os dois países.”

Para o subsecretário de Relações Exteriores da Itália, Alfredo Mantica, o Brasil não está pronto para ser uma potência mundial. “É um erro que outras potências emergentes, como China, Rússia ou Índia, jamais cometeram.” O ministro da Simplificação Normativa, Roberto Calderoli, por sua vez, sugeriu que a Itália não participe da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, como repúdio à decisão do STF.

A ministra italiana da Juventude, Giorgia Meloni, classificou a posição brasileira de “enésima humilhação” para os parentes das quatro vítimas que teriam sido assassinadas pelo ex-ativista na década de 1970. “A decisão da Justiça brasileira constitui um tapa nas instituições italianas e um ato indigno de uma nação civilizada e democrática”, criticou.

A Itália exigia a extradição de Battisti para que cumprisse a condenação à prisão perpétua no país, por suposta participação em quatro assassinatos cometidos na década de 1970, nos chamados anos de chumbo, quando era integrante de um grupo armado de ultraesquerda. O caso Battisti se arrastava nos tribunais brasileiros desde que o italiano foi detido no Rio de Janeiro em março de 2007. O ex-ativista passou a maior parte dos últimos quatro anos na Penitenciária da Papuda, em Brasília, de onde foi libertado na madrugada de ontem.

Soberania

Apesar das reclamações, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, negou que as relações entre os países possam ser abaladas. “É uma decisão do Judiciário. Como representante do Executivo, não tenho o que dizer”, afirmou o ministro. O governo italiano afirmou que vai recorrer ao Tribunal Internacional de Haia contra a decisão brasileira de não extraditar o ex-ativista.

O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, minimizou a ameaça da Itália de recorrer à Corte de Haia. Ele disse que a decisão do Supremo não abala as relações entre os dois países. Ele argumenta que as discussões envolvem o Judiciário e não o Executivo. “Esse é um problema que está circunscrito à esfera judicial”, disse o assessor. "O Supremo soberanamente decidiu, e a Itália tem todo o direito de usar as prerrogativas a que tem direito. Mas não é um tema que esteja nas mãos do Executivo. Foi resolvido pelo Supremo”, afirmou.  (Com agências)


Pelo mundo

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que manteve o ex-ativista de esquerda Cesare Battisti no Brasil e concedeu liberdade ao italiano, repercutiu na imprensa internacional ontem. Na Itália, o La Repubblica destacou em sua página na internet as declarações do presidente italiano, Giorgio Napolitano, que condenou a decisão do Supremo. O Corriere Della Sera destacou o primeiro-ministro do país, Silvio Berlusconi, que afirmou que vai recorrer da decisão brasileira em outras instâncias internacionais.

O espanhol El Pais também repercutiu em seu site o comunicado de Berlusconi. O diário espanhol citou ainda o chanceler italiano, Franco Frattini, afirmando que a decisão do tribunal brasileiro é “contrária às obrigações firmadas por acordos internacionais”. O britânico The Guardian afirmou que as relações diplomáticas entre Brasil e Itália ficaram delicadas após a decisão da Itália de recorrer ao tribunal internacional. O jornal britânico também citou na reportagem as ameaças vindas da Itália de boicote à Copa de 2014, que será realizada no Brasil. O ministro italiano da Simplificação Normativa, Roberto Calderoli, indicou que o boicote pode acontecer como uma manifestação contra a decisão de libertar Battisti.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)