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Estado de Minas

Empresa acusada de estelionato cuidará do lixo de Ouro Preto

Empresa que será contratada pela prefeitura para coletar o lixo da cidade é acusada de estelionato e superfaturamento no mesmo tipo de serviço, que executava no Paraná


postado em 22/06/2011 06:00 / atualizado em 22/06/2011 06:02

Uma empresa acusada de estelionato que superfaturava os valores recebidos por tonelada de lixo da Prefeitura de São José dos Pinhais , na Região Metropolitana de Curitiba, no Paraná, venceu a concorrência pública para a coleta de lixo e limpeza urbana da Prefeitura de Ouro Preto, Região Central de Minas Grais. O resultado da concorrência foi publicado no dia 16 de junho no diário oficial de Minas Gerais. Pelos serviços, a vencedora Ecosystem Serviços Urbanos Ltda, empresa paranaense cuja maioria dos sócios são argentinos, vai receber pelo menos R$ 3,9 milhões por ano pelo serviço de coleta de lixo residencial, domiciliar e varrição e capina das ruas. Segundo apurou a reportagem, o prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo (PMDB), tinha conhecimento dos problemas que a Ecosystem enfrenta, mas até essa terça-feira não tinha se posicionado sobre o assunto.

Delegado Francisco Caricati investigou a Ecosystem e constatou as irregularidades(foto: Marcelo Elias/Agência de notícias Gazeta do Povo - 7/12/09)
Delegado Francisco Caricati investigou a Ecosystem e constatou as irregularidades (foto: Marcelo Elias/Agência de notícias Gazeta do Povo - 7/12/09)
Em 2009 a Ecosystem foi indiciada pela polícia do Paraná por estelionato. Segundo investigações do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) do Paraná, na época comandado pelo delegado Francisco Caricati, a Ecosystem transportava resíduos de empresas privadas como se fossem lixo doméstico de São José dos Pinhais e recebia a mais por isso, já que o contrato firmado com a prefeitura previa o pagamento por tonelada recolhida. Esse contrato da Ecosystem com São José dos Pinhais foi feito nos mesmos moldes que o de Ouro Preto, que, a partir dessa licitação vencida pela empresa do Paraná, vai passar a pagar pela tonelada do lixo e não mais por estimativa de recolhimento, como ocorria antes. A estimativa é de que a empresa chegou a receber cerca de R$ 1 milhão a mais por ano com o esquema. A Ecosystem foi responsável pela coleta do lixo de São José dos Pinhais por seis anos.

Segundo relatório de investigação da Cope, “tal irregularidade propiciava ganhos em duplicidade para o que podemos chamar de quadrilha, uma vez que se cobrava o carregamento da contratada (empresas públicas) e posteriormente também da prefeitura”.

O delegado do caso na época conta que durante alguns meses os agentes seguiram os caminhões da empresa que faziam o transporte do material e flagraram seus funcionários misturando o lixo doméstico com o industrial para aumentar o peso e receber acima do previsto. “Também fizemos busca e apreensão no escritório da empresa, que tinha sede em São José dos Pinhais, e, por meio dos documentos apreendidos, constatamos as fraudes”, afirma o delegado.

Desfecho

Depois da revelação da fraude, a Prefeitura de São José dos Pinhais encerrou o contrato com a Ecosystem e, segundo informações da assessoria de comunicação do município, aguarda o desfecho do processo criminal que corre na Justiça do Paraná contra a empresa para decidir se vai tomar alguma medida jurídica para reaver os valores pagos indevidamente. Os representantes da Ecosystem não foram localizados pela reportagem. A empresa atualmente tem sede em Curitiba, mas o telefone comercial divulgado em seu site não atende. A ligação cai em uma caixa postal que informa o nome da empresa e pede que seja deixado um recado. A prefeitura de Ouro Preto também não foi localizada para falar sobre o resultado da licitação. A reportagem deixou um recado com o secretário de Governo, Antônio Carlos de Oliveira, mas ele não retornou o pedido de entrevista.

A Ecosystem tem como sócios os argentinos Leandro Oscar Perez, Gustavo Lorenzo Ruggeri, Cesar Luiz Perini, Miguel Bernardino Carpintieiro, Daniel Fernando Orts e a brasileira Silvana Cristina Rodrigues Magalhães. Apesar de ter cinco sócios, todos os documentos da empresa são assinados por Leandro Oscar Perez, identificado no contrato social da empresa como sócio-gerente. A brasileira aparece como sócia de outra empresa de engenharia, executada na Justiça de Minas e do Paraná por dívidas com aquisição de veículos e também trabalhistas.

Apesar da acusação de fraude, a Ecosystem apresentou um atestado de execução de serviços que teria sido emitido pela Prefeitura de São José dos Pinhais. O detalhe é que o documento é datado de 2007, dois anos antes da revelação pela Polícia do Paraná do esquema de fraude. Inicialmente a Ecosystem chegou a ser inabilitada pela comissão de licitação, porque o representante da empresa no processo licitatório não era um dos sócios da empresa nem tinha procuração de nenhum deles. No entanto a empresa entrou com um mandado de segurança na Justiça de Ouro Preto e conseguiu autorização para se cadastrar no processo de concorrência. Como apresentou o menor preço, acabou sendo escolhida vencedora. O contrato com a Prefeitura de Ouro Preto ainda não foi assinado, o que está deve ocorrer na semana que vem.


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