O Brasil e Minas Gerais estão de luto. Às 10h15 de ontem o ex-presidente da República, ex-governador do estado e ex-prefeito de Juiz de Fora Itamar Franco morreu vítima de um acidente vascular cerebral (AVC). Neste domingo, o corpo do senador será velado durante todo o dia e noite em Juiz de Fora – cidade onde viveu e iniciou sua carreira política – e amanhã segue para Belo Horizonte, onde receberá as últimas homenagens no Palácio da Liberdade. A presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB) assinaram ontem decretos declarando luto oficial por sete dias no país e no estado.
Itamar Franco, que completou 81 anos no dia 28, foi eleito senador no ano passado e se licenciou do cargo em 21 em maio, quando foi internado no Hospital Israelita Albert Einstein depois de diagnosticado com leucemia. O tratamento foi suficiente para controlar a doença, que apresentou remissão total – o que significa a ausência de qualquer atividade no organismo. Mas, na última semana, o estado de saúde piorou e o mineiro foi vencido pelos efeitos de uma pneumonia aguda contraída no hospital. Na tarde de sexta-feira o quadro se agravou e foi necessária a respiração artificial.
Durante a noite, Itamar sofreu um AVC e entrou em coma. Morreu poucas horas depois. As duas filhas do ex-presidente, Georgiana e Fabiana, estavam no hospital no momento de sua morte. E recusaram a oferta da presidente Dilma Rousseff para que o corpo fosse velado no Palácio do Planalto.Itamar teria comunicado a parentes e amigos o desejo de ser velado apenas na Câmara Municipal de Juiz de Fora e no Palácio da Liberdade, sede histórica do governo de Minas. O corpo será cremado em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, amanhã à tarde, em cerimônia restrita a familiares e amigos.
A equipe do cerimonial do Palácio do Planalto assumiu a organização dos dois velórios, que terão honras de chefe de Estado. O primeiro político a chegar ao Hospital Albert Einstein depois do anúncio oficial da morte de Itamar Franco foi o senador Eduardo Suplicy (PT), mas ele não encontrou os familiares no local. Segundo ele, os parentes de Itamar teriam recusado também a oferta do avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para o traslado do corpo até Juiz de Fora, optando por um voo comercial. O ex-ministro do Planejamento e das Minas e Energia do governo Itamar, Alexis Stepanenko, também esteve no hospital.
Itamar Franco era um dos mais destacados e comentados políticos mineiros das últimas décadas. Para o país, surgiu na eleição presidencial de 1989, como candidato a vice-presidente do hoje senador Fernando Collor de Mello. Assumiu a Presidência da República em 1992, depois da renúncia do ex-governador alagoano, com quem vivia às turras. Mesmo entre os mais críticos, era reconhecido pela retidão ética. Com seu indefectível topete, o ex-presidente também chamou muita atenção pelo estilo intempestivo, muitas vezes enigmático. Protagonizou situações embaraçosas e embates memoráveis. Se dizia nacionalista e abusava das referências às “montanhas de Minas”. (Com agências)
Ministro informou em Minas morte do senador
O primeiro a informar publicamente a morte do ex-presidente foi o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que recebeu a notícia da direção do Hospital Albert Einstein por volta das 11h, em Montes Claros, no Norte de Minas, antes da divulgação oficial do hospital. Ele inaugurava o Núcleo de Atenção à Saúde e de Práticas Profissionalizantes, das Faculdades Pitágoras de Montes Claros, ao lado do secretário de Estado de Saúde, Antônio Jorge de Souza Marques, deputados e autoridades locais, quando interrompeu o discurso e pediu ao público um minuto de silêncio. “Acabei de receber a notícia da morte do ex-presidente Itamar Franco e peço um minuto de orações por ele”, afirmou Padilha.
O ministro disse que, a pedido da presidente Dilma Rousseff, vinha acompanhando a situação do ex-presidente Itamar Franco desde quando ele foi internado, em 21 de maio. Ele chegou a visitar o senador no Hospital Albert Einstein. Padilha declarou ainda que na tarde de sexta-feira, quando o quadro do senador do PPS piorou, também a pedido da presidente da República passou a manter contato permanente com a equipe médica, acompanhando a situação de perto. Por isso, foi a primeira autoridade do governo a ser informada do falecimento do ex-presidente.“Quero agradecer a atenção da diretoria, da equipe médica e de todos os funcionários do Hospital Albert”, declarou o ministro.
Ele disse que a morte de Itamar Franco representa uma grande perda para o país. “Para a saúde, o Itamar teve um papel decisivo. Foi durante a curta gestão dele na Presidência que se criou o processo de fundos para o repasse de recursos do Sistema Único de Saúde para os estados e municípios. Isso foi um passo decisivo para a descentralização do SUS. Foi também na gestão de Itamar que se iniciou o programa de medicamentos genéricos no Brasil”, lembrou. “O Brasil todo está de luto, reconhecendo a importância que esse grande mineiro teve na democratização do pais”, concluiu Padilha. Em função da morte do senador mineiro, Alexandre Padilha suspendeu a agenda que teria hoje em cidades do Triângulo Mineiro. Ele participará do velório de Itamar em Juiz de Fora.
SAIBA MAIS
Acidente vascular cerebral - avc
O acidente vascular cerebral (AVC) pode ocorrer quando um vaso sanguíneo que transporta sangue e oxigênio para o cérebro é obstruído. Nesse caso, que configura 80% dos diagnósticos, é o tipo AVC isquêmico. Quando o vaso se rompe, em 20% dos casos, é chamado de AVC hemorrágico. Na falta do oxigênio, os neurônios da região atingida param de funcionar e começam a morrer em segundos. Portadores de doenças crônicas estão mais propensos a contrair a doença, assim como tabagistas e os que possuem histórico na família. As sequelas do AVC incluem alterações das funções motora, sensitiva, mental, perceptiva e da linguagem, o que pode variar muito em função do local e extensão exata da lesão. O AVC é considerado a segunda principal causa de morte entre pessoas acima dos 60 anos e a quinta entre os 15 e 59 anos no mundo. No Brasil, é a primeira causa de morte e incapacidade.