Jornal Estado de Minas

Reconhecimento de aliados e adversários

Políticos se unem para destacar a trajetória de Itamar

Marcelo da Fonseca Isabella Souto
O mundo político parou para lamentar a morte do senador mineiro e ex-presidente Itamar Franco (PPS). Aliados e opositores deixaram de lado suas posições ideológicas e partidárias para reforçar a importância de seu governo para o país e ressaltar sua trajetória política sem envolvimentos em escândalos políticos. A presidente Dilma Rousseff (PT) chegou a oferecer o Palácio do Planalto para a realização do velório do ex-presidente, mas os familiares preferiram que as cerimônias fossem marcadas para Minas Gerais. Por meio de nota, Dilma apontou a “trajetória exemplar e de honradez pública” de Itamar, que fica como um exemplo a ser seguido. “Foi dirigente do país em um momento crucial da nossa história recente. O Brasil e Minas sentirão sua falta”, disse a petista.
Os ex-presidentes também se manifestaram sobre o morte de Itamar, ressaltando diferentes momentos da sua carreira política e suas principais realizações. Fernando Henrique Cardoso, que assumiu dois ministérios em seu governo – primeiro das Relações Exteriores e depois da Fazenda –, afirmou que deve muito ao mineiro. “Incorruptível, com espírito público comprovado, comprometido com seu estado e com o povo brasileiro, ele deixa um legado extraordinário. Como seu colega no Senado, seu ministro em duas pastas e como um dos alicerces de minha candidatura à Presidência, devo muito a Itamar. Mas todos devemos a ele a marca de um homem a quem o poder não abalou a simplicidade no modo de viver”, diz em nota o tucano.

Já Luiz Inácio Lula da Silva destacou a implementação do Plano Real, a criação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e seu valor como “grande democrata”. “Quando assumiu a Presidência, em um momento conturbado, teve sabedoria para dialogar com toda a sociedade brasileira e ajudou o país a entrar em uma rota positiva na política, na economia e no social”, lembrou Lula. O senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), que teve Itamar como vice, enalteceu sua atuação no Congresso. “Sinto muito a perda de um amigo e grande presidente. Perde o Senado e a vida pública brasileira”, afirmou em nota.

Na bancada

Entre os companheiros da bancada mineira no Senado prevaleceu a tristeza com a ausência de um parlamentar batalhador, que conhecia muito bem os principais problemas de seu estado. Aliado e companheiro de chapa na disputa para a Casa, o senador Aécio Neves (PSDB) lamentou a morte daquele com quem tinha uma relação classificada por ele como familiar. “Trago comigo uma perda muito dolorida e muito pessoal. Construí com Itamar uma relação, que ele costumava dizer paternal. Eu perdi, há poucos meses, o meu pai, e perco, agora, uma figura que de alguma forma tomava esse espaço”, afirmou Aécio em entrevista à imprensa no seu apartamento em Belo Horizonte.

A última conversa entre Aécio e Itamar, segundo o senador, ocorreu há cerca de 10 dias, quando o colega de plenário perguntou sobre os rumos do projeto de reforma política em tramitação no Senado. Itamar fazia parte da comissão especial criada para discutir o assunto. “Fica firme lá, não deixem atropelar o regimento não. Estou aí próximo, preparando. Vou sair daqui melhor do que eu estava. Vou me preparar para as nossas próximas lutas”, teria dito Itamar. O senador ainda agradeceu à presidente Dilma Rousseff a iniciativa de oferecer o Palácio do Planalto para velar o corpo de Itamar, gesto apontado por ele como "republicano". Até porque Itamar integrava a bancada de oposição ao governo federal. E foi em relação a essa postura em relação ao Planalto o último pedido de Itamar ao senador. “Ele dizia sempre que a atividade da oposição na democracia é tão relevante quanto a daqueles que estão no governo”.



Outro companheiro de Congresso, o também mineiro Clésio Andrade (PR) afirmou que Itamar deixa um exemplo de coerência, dignidade e honradez. “Nesses cinco meses que convivi com ele no Senado aprendi muito e pude testemunhar mais de perto a firmeza e convicção com que defendia suas ideias, sempre em prol dos interesses de Minas.”

O senador Pedro Simon (PMDB-RS), que conhecia bem o político mineiro, lembrou a atuação de Itamar desde a década de 1970 e se impressionou com a empolgação do colega nos últimos dias no Senado. “Notei que ele estava doido para trabalhar. Parecia um guri. Será muito difícil arranjar um substituto à altura”, afirmou.

Na capital

O governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB) lembrou ontem da convivência diária com Itamar Franco durante os três meses da campanha eleitoral do ano passado – quando ele tentava a reeleição e Itamar uma das duas vagas de Minas para o Senado. “Quero fazer o registro formal, como governador de Minas, dos nossos sentimentos, das condolências de todos os mineiros à família, e reverenciar a sua memória”, afirmou, emocionado, destacando que Itamar era um homem “correto e honesto”.

Para o prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB), a carreira política do senador mineiro deixam claro suas qualidades como homem público, com acúmulos de experiência em cada etapa. “Ele começou como engenheiro de obras públicas, prefeito, senador, governador, presidente. É muito importante que se possa celebrar, na história brasileira, a presença de homens como Itamar Franco”, disse Lacerda. O vice-prefeito, Roberto Carvalho (PT), apontou o exemplo de um político que “não confundia o público com o privado” e deveria ser seguido por todos os homens públicos do país.

A atuação de Itamar nas reformas econômicas e o sucesso da nova moeda lançada durante seu governo foi lembrada pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado. “Ao assumir o comando da nação e nos seus momentos mais dramáticos, com sua determinação conseguiu conduzir o país, consolidando suas instituições democráticas e conduzindo nossa economia em um processo de estabilização”, reforçou Olavo. O lado humano do ex-presidente também foi destaque entre os depoimentos dos mineiros que conheceram Itamar, assim como sua devoção com a fé e sensibilidade com as pessoas. “Era muito sincero, um homem muito aberto e respeitoso. Ele tinha amor ao Brasil, a Minas Gerais e tinha seriedade em seu trabalho”, comentou o arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo.