Jornal Estado de Minas

Ministro dos Transportes admite não controlar a Valec

Diante de denúncias de superfaturamento e propina em obras viárias, Alfredo Nascimento confessa a aliados que contratos da estatal eram comandados pelo secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto

Denise Rothenburg Paulo de Tarso Lyra
Sob fogo cerrado desde o fim de semana, quando saíram publicadas as denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes, o titular da pasta, Alfredo Nascimento, e o secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto, começam a jogar os problemas um no colo do outro. Na reunião da noite de segunda-feira, na qual recebeu parlamentares do partido em seu gabinete, Nascimento expôs sua versão sobre os preços das obras rodoferroviárias.
Foi veemente ao afirmar que não há superfaturamento nas obras a cargo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), mas deixou todos um tanto assustados ao dizer que, em relação à Valec, quem cuidava dos contratos eram o diretor-presidente, José Francisco das Neves, e o próprio Valdemar.

A Valec, para o Ministério dos Transportes, tem quase o mesmo valor estratégico que a Petrobras para o Ministério de Minas e Energia. No governo Lula, o presidente da empresa, Sérgio Gabrielli, costumava despachar diretamente no Palácio do Planalto, sem passar pelo gabinete de Edison Lobão. José Francisco das Neves, o Juquinha, reportava-se diretamente a Valdemar, segundo apurou o Correio, embora aliados do secretário-geral do PR insistam que ele é afilhado do ex-presidente do BC, Henrique Meirelles. Políticos que costumam frequentar o 26º andar da Câmara, onde ficam as salas do partido no Congresso nas quais Valdemar despacha diariamente, dizem que Neves era presença constante por ali, assim como alguns empresários.

Nascimento confirmou que irá ao Congresso na semana que vem para dar sua explicação
Comprar uma briga direta com Valdemar pode ser complicado para Nascimento. Na prática, o secretário-geral do PR é quem comanda a legenda, a mão-de-ferro. Todos os presidentes dos diretórios regionais são provisórios, podendo ser substituídos por mera “canetada”. Além disso, Valdemar sempre lembra, embora até o momento não tenha usado esse expediente, que o Tribunal Superior Eleitoral autorizou a perda de mandato nos casos de desfiliação partidária.

Fúria

Além disso, o PR transformou-se em uma máquina partidária, com dois minutos no horário eleitoral gratuito, seis senadores e uma coligação de 64 deputados na Câmara. Se a presidente Dilma Rousseff quiser tirar o Ministério dos Transportes do PR, terá que, necessariamente, alojar a legenda em outra pasta. “O Valdemar até aceitaria a substituição de Alfredo por um nome da bancada. Mas se ele perder o ministério, vai ficar furioso”, disse um integrante da bancada na Câmara.

Os deputados e senadores que estiveram com Alfredo na noite de segunda-feira encontraram um ministro abatido e preocupado. “Não existe superfaturamento. Mas, sabe como é, aumenta uma estrada marginal, quando é área urbana, ou uma passarela de pedestres para cruzar a rodovia, ou mesmo um viaduto e o preço muda”, comentou o ministro com os aliados. “De mais a mais, os orçamentos são submetidos ao Ministério do Planejamento, que libera os limites (de gastos)”, completou ele, esforçando-se para mostrar que sempre agiu dentro da legalidade.

Estratégia

Nascimento disse ainda aos parlamentares do PR que não terá o menor problema em expor esses dados aos congressistas, seja na Câmara, seja no Senado. O convite para uma audiência conjunta na Câmara será votado nesta quarta-feira na Comissão de Ciência e Tecnologia da Casa. No Senado, o convite já foi aprovado e a audiência, marcada para a terça-feira, 12 de julho. As datas dos depoimentos foram escolhidas por uma questão estratégica, para dar tempo ao ministro de rever o discurso caso as revistas semanais tragam novidades sobre o caso no fim de semana.

Esse prazo será ainda crucial para que o PR tente construir um cinturão de apoio no Congresso. Ontem, no almoço que reuniu os líderes partidários e do governo na casa do petebista Jovair Arantes (GO), o líder do PR, Lincoln Portela (MG), e o deputado Luciano Castro (PR-RR) pediram que os demais partidos da base governista sejam solidários ao ministro na semana que vem.

A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, participou do encontro, mas o caso foi tratado antes de ela chegar. A ministra vai acompanhar de perto os desdobramentos da crise no Congresso. Todos se mostraram solidários a Nascimento: “O ministro sempre foi da maior correção”, comentou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). “Da nossa parte não haverá problemas”, completou o líder do PT, Paulo Teixeira (SP). (Colaborou Débora Álvares)