Jornal Estado de Minas

Maggi avalia compatibilidade de negócios com cargo de ministro

Denise Rothenburg Paulo de Tarso Lyra
Brasília – Em três dias, o PR passou de titular estável em uma das pastas com o maior orçamento da Esplanada para um partido à beira de um ataque de nervos. Isso porque o único nome da bancada consultado pela presidente Dilma Rousseff para assumir o Ministério dos Transportes – o senador Blairo Maggi (PR-MT) – está disposto a dizer não. Numa reunião nesta quinta-feira pela manhã com líderes do partido no Congresso, o senador Magno Malta (ES) e o deputado Lincoln Portela (MG), Blairo Maggi comentou que é dono de várias empresas que têm financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros com o poder público, como a Marinha Mercantil . O senador, maior produtor individual de soja do mundo, tem empresa de navegação e transporte fluvial para escoar a produção do grão e exportá-lo. “Estou preocupado, preciso avaliar tudo isso. Não sei se constitucionalmente é possível”, comentou o senador.
O encontro de Blairo com os líderes ocorreu na presença do mais novo integrante da bancada de senadores do PR, Alfredo Nascimento (AM). O ex-ministro tratou de jogar parte da culpa no aumento de preços nas obras rodoviárias no colo do ministro interino, Paulo Sérgio Passos. “Quando cheguei ao ministério já estava tudo fechado para este ano. Não fui o ordenador de despesas”, disse, extremamente abatido. A bancada do PR não deseja Paulo Sérgio Passos no cargo. Um integrante do partido acha que só um ingênuo pode acreditar que tanta corrupção ocorria no ministério e que o secretário-executivo e ministro interino em três oportunidade “simplesmente desconhecia as irregularidades”.

Outro que participou da reunião foi o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot que está demissionário e de férias. Pagot foi secretário do governo Blairo Maggi em Mato Grosso. Nessa quinta-feira, ele permanecia em Brasília e fez um desabafo aos parlamentares: “A maioria dos termos aditivos veio do Paraná, de Santa Catarina e de Porto Alegre”, disse aos políticos, na presença do ex-ministro. Referia-se a estados que o PT tentou tirar do PSDB, de Beto Richa, e do DEM, de Raimundo Colombo (hoje no PSD), ambos eleitos na campanha de 2010. No Rio Grande do Sul, Tarso Genro retomou o governo para o PT. o futuro ministro.

O Planalto está dando corda para o PR. Na noite de quarta, Maggi foi ao gabinete do secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, reclamar da demissão de Pagot, seu afilhado. Afirmou que era uma injustiça o afastamento do diretor do Dnit . Foi nesse momento que Blairo ouviu a sondagem. Desafetos de Maggi acham que o senador teria dificuldades para ficar no cargo, já que tanto ele quanto Pagot são réus em um processo na Justiça Federal do Distrito Federal.

Produtor multimilionário


Apontado como o maior produtor individual de soja do mundo, o senador Blairo Maggi (PR-MT) é tido como o responsável por 5% da produção anual do grão brasileiro por meio do Grupo Amaggi. No começo do ano, Maggi foi apontado, entre os parlamentares o segundo na lista dos multimilionários, com um patrimônio estimado em R$ 152,4 milhões.

Formado engenheiro-agrônomo pela Universidade Federal do Paraná, é plantador de soja no Sul do estado. O Grupo Amaggi é um dos maiores produtores e exportadores de soja do Brasil. Maggi governou o Mato Grosso de 2003 a 2006 e foi reeleito para o cargo no período seguinte, que terminaria em 2010, quando renunciou para concorrer ao Senado.