A oposição enxergou na manifestação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pedindo ao Supremo Tribunal Federal (STF) a condenação de 36 pessoas no processo do mensalão, uma derrota da teoria difundida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o esquema de compra de apoio político nunca existiu. Para os oposicionistas, uma condenação em massa no processo seria importante para reduzir qualquer sensação de impunidade.
O presidente do DEM, senador José Agripino (RN), afirmou que Gurgel fez o "óbvio" ao confirmar a denúncia encaminhada pelo seu antecessor, Antonio Fernando de Souza. Ele ironizou tentativas do PT de reabilitar personagens denunciados no esquema, como José Dirceu e Delúbio Soares. "Quero ver o que o PT vai dizer dos filiados que tentou inocentar na marra."
ACM Neto, líder do DEM na Câmara, destacou que a manifestação vem em momento ruim para o governo. Ele lembrou que dois ministros, Antonio Palocci e Alfredo Nascimento, deixaram seus cargos no último mês devido a denúncias e o escândalo dos "aloprados" foi ressuscitado com acusações contra Aloizio Mercadante, ministro da Ciência e Tecnologia. "Essa posição do procurador amplia o desconforto do PT e do governo, que está envolvido em diversos escândalos."
O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), destacou o fato de a denúncia contra os mensaleiros ter acontecido no momento em que está em tramitação o processo de recondução de Gurgel. Sua indicação deve ser analisada pelo Senado na próxima semana. Ele atribuiu a isso a exclusão de Luiz Gushiken da lista de denunciados. "Ele quis melhorar a imagem de governistas, tentando obter simpatia na sabatina."
Demóstenes afirma ter perdido a confiança em Gurgel depois de o procurador ter se recusado a avaliar a situação de Palocci. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) fez a mesma ressalva. Para ele, a acusação sobre o mensalão seguiu adiante porque já havia muito material na procuradoria. "Não dava para arquivar."
O líder do PSDB, Alvaro Dias (PR), prevê que o julgamento no STF dos mensaleiros "será histórico". "O procurador reafirma a denúncia feita por seu antecessor, inclusive se valendo da veemência, da acusação fulminante quanto à existência de uma organização criminosa interessada em manter um projeto político com pleno conhecimento da Presidência da República", destacou o tucano.