“Não sei se ainda no meu governo, mas o que posso dizer para vocês é que a gente não vai deixar a obra pelo meio”, garantiu o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a moradores de Buritizeiro, na Região Norte de Minas, que acompanhavam visita oficial com a expectativa de se verem livres de fossas no quintal de casa. Era 14 de outubro de 2009, ano pré-eleitoral, em que a Justiça não permite campanha. A ponderação de Lula sobre a chance de não cumprir a promessa em seu mandato foi ouvida por uma espectadora especial. Assistia ao “comício” – como deixou escapar o próprio Lula – a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), pré-candidata à Presidência da República. Mas quem votou na petista com o sonho de ver a rede de esgoto implantada no município de cerca de 30 mil habitantes ainda está decepcionado. A caravana presidencial se foi e, desde junho do ano passado, o empreendimento está parado. O caso de Buritizeiro não é único. Obras inauguradas por Lula e Dilma na corrida eleitoral estão paradas ou caminham a passos lentos. Outras mal foram entregues e já estão com problemas.
“As ruas estão completamente esburacadas. Ninguém consegue parar o carro em frente a minha casa e comércio. Se Dilma continuar assim, não votamos nela nem para vereadora de Buritizeiro”, reclama a comerciante Maria Madalena Rodrigues, de 68 anos. Ela se lembra do dia em que Lula e Dilma visitaram a obra em outubro de 2009, mas sua maior recordação é do dia em que a obra parou, oito meses depois, em junho do ano passado. “Não aguento mais limpar fossa. Além disso, agora tenho lama e buraco na porta de casa”, afirma. Segundo o prefeito do município, Salvador Raimundo Fernandes (PT), a empresa vencedora da licitação das obras declarou falência, depois de gastar cerca de R$ 4 milhões na rede de esgoto. “Estamos sofrendo as consequências até hoje, com ruas esburacadas e valas abertas. Agora, o governo federal liberou mais R$ 15 milhões para finalizarmos a obra.”
Falta de verba
Buritizeiro foi uma das cidades visitadas por caravana de Lula e Dilma pelas obras de transposição do Rio São Francisco – a rede de saneamento faz parte da revitalização do Velho Chico, que recebe o esgoto da cidade –, que passou também por Pirapora (MG), Barra (BA), Custódia (PE), Floresta (PE) e Sertânia (PE). Na última, Lula e Dilma viram 2,7 mil operários trabalhando em construção de canal para passagem do curso d’água. No fim do ano passado, todos foram demitidos e as obras, paralisadas. Segundo o vereador Junhão Lins (PSDB), a cidade está um “cemitério”. “Estávamos em pleno crescimento. Os comerciantes investiram para atender os trabalhadores das obras. Agora, todo mundo está aperreado. A impressão que se tem é de que apenas fez parte da campanha eleitoral”, diz.
A prefeita de Sertânia, Cleide Ferreira (PSB), diz que a previsão é de as obras voltarem no mês que vem. Ela não sabe dizer o motivo da paralisação. Segundo ela, os “boatos” são de que as empreiteiras responsáveis pela obra pediram mais verba ao governo federal. A previsão inicial era de R$ 5 bilhões. O Estado de Minas enviou lista de obras paradas (veja mapa) ao Ministério do Planejamento, responsável pelo PAC. Segundo a assessoria de imprensa, a execução das obras é de competência de estados e municípios e, ao ministério, “cabe o repasse de recursos”.