Brasília – A nomeação de Paulo Sérgio Passos para o Ministério dos Transportes precipitou um terremoto no PR que esfarelou o partido. As bancadas de Senado e Câmara estão em pé de guerra, ao mesmo tempo em que o ministro, pivô da crise, já fala em mudanças na pasta. Passos fez nessa terça-feira sua primeira aparição pública após a oficialização como titular do ministério, numa entrevista recheada com promessas de mudança, apelo à moralidade e compromisso de obediência às orientações da presidente Dilma Rousseff (leia os principais trechos ao lado). O ministro afirmou que haverá ajustes na equipe, modificações de procedimentos e redução de ativos nos contratos, por meio da adoção do modelo de empreitada global nas obras de transporte.
Nos bastidores, a disputa ganhou contornos de tensão. Os senadores dizem que os correligionários deputados não sabem lidar com a presidente Dilma Rousseff. Os deputados atiram dizendo que os colegas tentam se beneficiar de uma situação jogando o deputado Costa Neto aos leões. “Admitimos que estamos em desvantagem. A interlocução do Planalto com a Câmara não existe”, cutucou o líder do PR na Câmara. Lincoln Portela (MG).
Afinadíssimo com o governo, o senador Clésio Andrade (PR-MG) movimenta-se em sentido contrário. Sugere que poderá criar um partido para arrebanhar os insatisfeitos com a liderança de Valdemar e Alfredo na legenda, o que racharia de vez o Partido da República. “Estou pensando em reativar o projeto do partido novo caso o ambiente no PR torne-se mais hostil”, declarou.
Ainda com a ressaca da nomeação de Passos, servidor de carreira dos Transportes, para a pasta, Lincoln Portela anunciou aos aliados que não iria comparecer ao tradicional almoço da base aliada na Câmara, que ocorre todas as terças-feiras com a ministra Ideli Salvatti . “No mesmo horário, recebi em meu gabinete uma romaria de deputados insatisfeitos com o Planalto, que nomeou Passos sem nos consultar”, disse.
Lincoln ameaça boicotar também o encontro previsto para hoje com a presidente Dilma para comemorar o fim do semestre legislativo. Deputados aliados, como o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), entraram em cena para tentar mudar a posição do PR. Durante o almoço, ele já havia feito um desagravo ao PR, mas acha que os deputados não podem exagerar. “Uma coisa é não ir ao encontro com a Ideli. Outra é boicotar a presidente. Isso é preocupante”, afirmou o deputado potiguar.
Por sua vez, o líder do PR no Senado, Magno Malta (ES), disse que irá ao encontro de hoje, defendeu a nomeação de Passos e elogiou a postura da presidente. Segundo ele, as resistências na Câmara são pontuais. O PR só se entende ao avaliar que Dilma errou ao demitir Pagot de maneira sumária.
Confira os principais trechos da entrevista do novo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos
Mudanças à vista
Eu falei em ajustes e quero afirmar que, para realizar esse trabalho, vou escolher as pessoas certas, e essa será uma responsabilidade minha. Vou, naturalmente, propor à presidente pessoas qualificadas, capacitadas e com atributos para cada uma das funções que venham a ser a elas designadas.
Luiz Antonio Pagot
No meu contato com ele, tem se revelado um profissional responsável, dedicado às tarefas que dizem respeito ao Dnit e não tenho nenhum registro que possa depor contra sua pessoa.
Prestígio no PR
Em primeiro lugar, conheço parlamentares do partido. Em segundo, acredito que, ao ter sido nomeado pela presidente, vou trabalhar naturalmente prestigiando o partido e espero ser prestigiado também. Vamos trabalhar escolhendo as pessoas certas para os lugares certos. São requisitos indispensáveis para quem ocupa uma função pública: competência, experiência, honorabilidade.
Influência de Costa Neto
É preciso não confundir a gestão administrativa de uma pasta com aspectos de relação política que envolvem os partidos e eu não misturo as duas coisas. O acesso ao ministério ocorrerá conforme princípios éticos que deve haver entre agentes públicos.
Exigência de Dilma
A presidente foi clara em suas primeiras palavras: quer um ministério que trabalhe e atue eficientemente, conduzindo projetos de responsabilidade da pasta, e espera que eu faça todos os ajustes para que não se tenha nenhuma dúvida quanto à correção do que aqui se pratica.
Licitações e obras suspensas
Estamos analisando situações em que há necessidade de liberar, seja licitação, sejam aditivos, porque temos que ter em mente a necessidade de garantir a segurança das pessoas e o cumprimento das obrigações e responsabilidades do Estado no que diz respeito, por exemplo, às rodovias.