Brasília – As empreiteiras que têm contratos com o Ministério dos Transportes abasteceram 77% dos cofres de campanha do PR nas eleições de 2010. O partido comanda a pasta desde 2003. Se não fosse o financiamento realizado pelas construtoras que realizam obras rodoviárias com recursos do ministério, o PR teria recebido apenas R$ 6,3 milhões do total de R$ 27,5 milhões que formaram a receita do diretório nacional em 2010. O PR é o único partido que se mantém majoritariamente com recursos de empresas que prestam serviços ao ministério, chefiado pela própria legenda. Partidos de maior cacife na Esplanada, como PT e PMDB, receberam quantias bem menores, proporcionalmente ao montante de receita de construtoras relacionadas ao Ministério dos Transportes e, consequentemente, ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Isso porque os parlamentares que optaram por mudar de partido para se posicionar no PR são contemplados, direta e indiretamente, pela verba das empreiteiras. Dos sete deputados que trocaram de legenda e desembarcaram no Partido da República entre os pleitos de 2006 e 2010, cinco aumentaram as receitas eleitorais. Os outros dois só não estão na lista dos beneficiados porque não concorreram no ano passado. O deputado pelo Maranhão Davi Alves Silva Júnior, por exemplo, trocou o PDT pelo PR em 2009 e viu sua receita eleitoral aumentar sete vezes em 2010. Ele recebeu R$ 81 mil em 2006, na disputa para uma vaga na Câmara, enquanto no ano passado foi contemplado com R$ 638 mil. Dessa quantia, R$ 608 mil foram repassados pelo diretório nacional do PR ao então candidato. O parlamentar não foi localizado pela reportagem.
Outro lado
O PR informou, por meio da assessoria, que não comenta contratos de receitas com o ministério. O partido alega que não discrimina empresas pela natureza ou clientela ou se ela presta serviços ao único ministério chefiado pela pasta. Na avaliação do PR, a tendência da legenda é crescer nos próximos anos e não existe razão para identificar qualquer processo de redução. Membros da sigla avaliam ainda que o partido vem crescendo desde 2002, quando sequer tinha representação na Esplanada.
Coincidência ou não, os balanços de alguns financiadores de campanha apresentam forte evolução. Alvo de investigações do Ministério Público Eleitoral e da Procuradoria da República no Mato Grosso, a Cavalca Engenharia e Construções, por exemplo, aumentou 1.000% em um ano o valor dos contratos com o governo federal. A empreiteira faz parte do grupo Cavalca, que doou mais de R$ 500 mil para campanhas eleitorais no ano passado, sendo R$ 300 mil só para o senador Blairo Maggi (PR-MT). Dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) mostram que em 2009 a empreiteira do Paraná faturou R$ 6,6 milhões do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), sob o comando de Luiz Antonio Pagot, para tocar obras em diversas rodovias federais. Em 2010, foram mais de R$ 72 milhões. Os projetos apresentam indícios de superfaturamento.