Brasília – Cresce na base aliada e no Palácio do Planalto a pressão para que a presidente Dilma Rousseff recue da decisão de exonerar o diretor geral do Dnit Luiz Antonio Pagot assim que este retornar de suas férias na semana que vem. Depois de dois dias de depoimento no Congresso, totalizando mais de 12 horas de exposição a deputados e senadores, a avaliação dos governistas é de que Pagot portou-se bem, mostrando que as denúncias contra ele no escândalo que derrubou a cúpula do Ministério dos Transportes eram “inconsistentes”. Até mesmo o vice-presidente, Michel Temer, defende uma postura mais cautelosa. “Vamos esperar o fim das férias dele (Pagot) para resolver essa questão”, declarou. Dilma entretanto, afirmou que não desistirá da exoneração. O recado foi enviado a senadores que participaram de coquetel à noite.
Temer, aliás, entrou para valer na missão de pacificar o PR. Na noite de terça, o vice-presidente chamou o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), e o deputado Luciano Castro (RR) para uma conversa. Os dois ensaiavam uma rebelião, ameaçavam romper com o governo e não comparecer ao jantar que Dilma ofereceria na noite de ontem para parlamentares da base aliada. Eles reclamavam de não terem sido consultados com antecedência sobre a efetivação de Paulo Sérgio Passos como ministro dos Transportes. “Tudo bem, vocês podem até fazer um movimento demonstrando insatisfação. Mas não podem fechar a porta como vocês estão querendo fechar”, argumentou Temer. A conversa surtiu efeito. Os dois rebeldes foram até o Ministério dos Transportes manifestar apoio ao novo ministro.
O senador Blairo Maggi (PR-MT) é que ainda não estancou a raiva em relação ao episódio. Ele segue defendendo que seu pupilo permaneça no Dnit e confirma que fará todos os movimentos para mantê-lo. Confiante após saber do novo aliado, Pagot demonstrou desenvoltura nas 7 horas de depoimento na Câmara quando deixou em todos os presentes a certeza de que continuará. “Eu pretendo continuar no Dnit para dar sequência à reestruturação do órgão”, disse. “Eu não sou demissionário, estou de férias. Mas o futuro pertence a Deus e à presidente Dilma”, afirmou. Ainda de olho na vaga, o senador Clésio Andrade (PR-MG) voltou a defender ontem que a direção do órgão seja dada a um mineiro. (Com agências)
Grampo
O diretor afastado do Dnit, Luiz Antonio Pagot, declarou ontem na Câmara que está sendo grampeado há pelo menos dois anos e meio. Disse que na semana passada, 5 de julho – três dias depois da publicação da matéria denunciando o pagamento de propinas no Ministério dos Transportes –, recebeu uma ligação de uma pessoa que se identificava apenas como “um servidor de órgãos de inteligência do governo”. E que essa pessoa teria relatado pelo menos três conversas de Pagot com um candidato a prefeito do interior do Paraná, com a própria filha e uma terceira negociando a venda de 600 cabeças de gado. “Por isso não tenho medo de quebra de meus sigilos bancário e telefônico, porque já está quebrado há muito tempo.” Pagot disse que vai pedir uma investigação à Polícia Federal. “Não sou apenas eu que devo respostas a eles. Eles também me devem explicações”, ameaçou.