Só o deputado estadual Zé Maia (PSDB) abasteceu, em dois meses (março e abril), R$ 7.037,22 no Auto Posto Itapegipe. Se o ritmo continuar, o parlamentar pagará no primeiro ano de mandato o mesmo valor que a empresa doou para ele (R$ 45 mil). O deputado Celinho do Sinttrocel (PCdoB) também optou por gastar parte de sua verba com empresa doadora. Em três meses, ele pagou R$ 15 mil à Lage e Lage Consultores e Auditores, sendo R$ 5 mil por mês. Se pagar mais R$ 5 mil, desembolsará o mesmo valor doado pela empresa (R$ 20 mil).
Doador de R$ 18 mil ao deputado estadual Neilando Pimenta (PHS), Joenilson Lima Nascimento foi escolhido pelo mesmo parlamentar para prestar consultoria. Em dois meses, o apoiador já recebeu R$ 9,1 mil. Se continuar embolsando R$ 4.550 mensais, até o fim do ano Joenilson terá ganhado R$ 27,3 mil. Responsável pela divulgação parlamentar na base eleitoral de Adalclever Lopes (PMDB) em Caratinga, no Vale do Rio Doce, a C.R. Carraro também doou para o parlamentar. Deu R$ 1.350 para a campanha e recebeu, entre fevereiro e abril, R$ 10,8 mil.
Já o doador Marco Aurélio Pereira Madureira recebeu mais do que gastou. O valor que ele ganhou da verba indenizatória em serviços de consultoria prestados ao deputado Luiz Carlos Miranda (PDT) – R$ 15 mil – é quase seis vezes maior do que ele doou na eleição de 2010 (R$ 2.546,87). O que mais pagou a um de seus doadores foi o deputado Mauri Torres (PSDB). Com a empresa de locação e fretamento de veículos Barros & Braga Locação de Veículos, que contribuiu com R$ 4 mil para sua campanha, ele já gastou R$ 23,5 mil.
O deputado Anselmo José Domingos (PTC) resolveu contratar duas de suas doadoras. Prestador de serviço de consultoria, Ildeu Lucas Pereira doou R$ 14 mil e recebeu, em três meses de serviços, R$ 7,5 mil. No mesmo ramo, Patrícia Alves de Paula contribuiu com R$ 1,7 mil e recebeu R$ 4,2 mil.
Licitação O analista político Gaudêncio Torquato defende o financiamento público de campanha para acabar com esse troca-troca. Ele observa que o mundo dos negócios está muito ligado ao setor privado e só com mudanças nas regras eleitorais é que o universo político “ficará mais ético e puro”. Para evitar a prática do toma lá, dá cá, Gaudêncio Torquato também sugere que os gastos relacionados à atividade parlamentar passem por licitação, já que a verba indenizatória é dinheiro público. “Enquanto o sistema continuar da maneira como sempre haverá troca de interesses. Uma empresa doa para campanha por ter algo em vista”, observa.
O mesmo pensa o vice-presidente do Instituto Paranaense de Direito Eleitoral, advogado Luiz Gustavo Severo. Ele ressalta que a prática não é ilegal, mas é necessária uma fiscalização da Mesa Diretora da Assembleia e do Ministério Público. “A legislação tem que mudar porque ela permite que, tanto o Poder Legislativo quanto o Executivo façam isso e ainda instiga a ilicitude”, analisa. O advogado defende que o valor da verba indenizatória venha embutido no salário dos parlamentares. “Se o valor vier embutido, eu duvido que eles iriam contratar tantas empresas e pagar valores altos”, acrescenta.