Ali, José Augusto ficou por cerca de uma hora, tempo gasto para desengatar uma das duas caçambas de seu cavalo mecânico. Em seguida, dirigiu até o outro lado da ponte enquanto um colega, em outro caminhão enviado pela empresa, atravessava com o restante da carga. Encerrada a operação, nova parada na outra margem do rio, agora para retomar a carga e seguir viagem. O tempo gasto é o suficiente para rodar 60 quilômetros, conforme José Augusto.
Em uma BR como a 381, estreita e cheia de curvas que lhe renderam o título de Rodovia da Morte, isso significa impossibilidade de ultrapassagem com segurança e, consequentemente, mais tempo nas estradas. “Paro em casa três a quatro vezes por mês, e fico no máximo dois dias”, conta José Augusto, que mora em Ponta Grossa, no Paraná, é casado e tem um filho.
Só rezando
Rosimeire Paiva, moradora de Ravena, distrito de Sabará a cerca de 30 quilômetros de Belo Horizonte, às margens da BR 381, chegou nessa terça-feira às 12h50 ao ponto de ônibus que leva à capital, onde frequenta uma igreja. O objetivo era tomar a condução que, pelo quadro de horários da empresa administradora da linha, passaria às 12h55. O veículo passou somente 1 hora e 17 minutos depois do tempo previsto. Rosimeire embarcou, mas já sem esperanças de participar do culto, ãs 15h.
“Se fosse uma rodovia duplicada, o tempo para chegar a Belo Horizonte seria muito menor”, diz Rosimeire. Ela faz o trajeto duas vezes por semana, e, para conseguir circular mais rapidamente pela 381, só colocando o Ministério dos Transportes nas orações.
Do ponto em que Rosimeire aguardava o ônibus, às margens da BR-381, foi possível notar a forma pela qual outra moradora de Ravena, Marli Pedro Cerilo, é obrigada a conviver com a rodovia. Sem passarela por perto, a mulher, com a filha e o filho, de 12 e 5 anos, respectivamente, avança rapidamente sobre uma das pistas. Atravessa e percorre cerca de 100 metros ao lado de um guard-rail, ao centro da via. Corta a outra pista e segue em caminhada às margens da estrada, já do outro lado, sem qualquer proteção, até a entrada do Bairro Acampamento Batista, onde vive. “Faço isso até duas vezes por dia”, conta Marli.
Nessa terça-feira, ela fez todo o percurso, de cerca de três quilômetros, para buscar os filhos, que estão em férias, na casa da avó. Marli, assim como Rosimeire e o caminhoneiro José Augusto, têm as vidas entrelaçadas com a estrada. A expectativa é de que, independentemente do que for feito em Brasília, as medidas deem qualidade a essa coexistência.