Se tivesse uma estrada em boas condições, José Augusto não gastaria 12 horas a mais para fazer o trajeto entre Vitória, no Espírito Santo, e Uberaba, no Triângulo Mineiro. Se tivesse uma estrada decente, Rosimeire não teria se atrasado nessa terça-feira para o culto na igreja. Se tivesse uma estrada segura, Marli não teria que arriscar a vida, e também a de seus dois filhos, atravessando uma das vias mais movimentadas e trágicas do país. José Augusto, Rosimeire e Marli não têm uma estrada em que possam confiar. Todos dependem da BR-381 para tocar suas vidas, e são as vítimas, muitas vezes invisíveis – já que, por sorte ou destreza, seguem vivas –, da histórica falta de investimentos do Ministério dos Transportes, agravada pela crise por suspeitas de desvios de verbas que provocou a demissão da cúpula da pasta.
Depois de deixar Vitória durante a madrugada, o caminhoneiro José Augusto Martins, de 24 anos, parou por volta do meio-dia no posto da Polícia Rodoviária Federal em Santa Luzia, na Grande Belo Horizonte. Seu veículo, somado à carga de adubo que transportava, pesava 57 toneladas, 12 a mais que a capacidade da ponte provisória construída pelo Exército sobre o Rio das Velhas, na divisa de Belo Horizonte e Sabará, para substituir a que ruiu um dia antes do início do feriadão da semana santa por falta de manutenção.
Ali, José Augusto ficou por cerca de uma hora, tempo gasto para desengatar uma das duas caçambas de seu cavalo mecânico. Em seguida, dirigiu até o outro lado da ponte enquanto um colega, em outro caminhão enviado pela empresa, atravessava com o restante da carga. Encerrada a operação, nova parada na outra margem do rio, agora para retomar a carga e seguir viagem. O tempo gasto é o suficiente para rodar 60 quilômetros, conforme José Augusto.
Em uma BR como a 381, estreita e cheia de curvas que lhe renderam o título de Rodovia da Morte, isso significa impossibilidade de ultrapassagem com segurança e, consequentemente, mais tempo nas estradas. “Paro em casa três a quatro vezes por mês, e fico no máximo dois dias”, conta José Augusto, que mora em Ponta Grossa, no Paraná, é casado e tem um filho.
Só rezando
Rosimeire Paiva, moradora de Ravena, distrito de Sabará a cerca de 30 quilômetros de Belo Horizonte, às margens da BR 381, chegou nessa terça-feira às 12h50 ao ponto de ônibus que leva à capital, onde frequenta uma igreja. O objetivo era tomar a condução que, pelo quadro de horários da empresa administradora da linha, passaria às 12h55. O veículo passou somente 1 hora e 17 minutos depois do tempo previsto. Rosimeire embarcou, mas já sem esperanças de participar do culto, ãs 15h.
“Se fosse uma rodovia duplicada, o tempo para chegar a Belo Horizonte seria muito menor”, diz Rosimeire. Ela faz o trajeto duas vezes por semana, e, para conseguir circular mais rapidamente pela 381, só colocando o Ministério dos Transportes nas orações.
Do ponto em que Rosimeire aguardava o ônibus, às margens da BR-381, foi possível notar a forma pela qual outra moradora de Ravena, Marli Pedro Cerilo, é obrigada a conviver com a rodovia. Sem passarela por perto, a mulher, com a filha e o filho, de 12 e 5 anos, respectivamente, avança rapidamente sobre uma das pistas. Atravessa e percorre cerca de 100 metros ao lado de um guard-rail, ao centro da via. Corta a outra pista e segue em caminhada às margens da estrada, já do outro lado, sem qualquer proteção, até a entrada do Bairro Acampamento Batista, onde vive. “Faço isso até duas vezes por dia”, conta Marli.
Nessa terça-feira, ela fez todo o percurso, de cerca de três quilômetros, para buscar os filhos, que estão em férias, na casa da avó. Marli, assim como Rosimeire e o caminhoneiro José Augusto, têm as vidas entrelaçadas com a estrada. A expectativa é de que, independentemente do que for feito em Brasília, as medidas deem qualidade a essa coexistência.
Depois de deixar Vitória durante a madrugada, o caminhoneiro José Augusto Martins, de 24 anos, parou por volta do meio-dia no posto da Polícia Rodoviária Federal em Santa Luzia, na Grande Belo Horizonte. Seu veículo, somado à carga de adubo que transportava, pesava 57 toneladas, 12 a mais que a capacidade da ponte provisória construída pelo Exército sobre o Rio das Velhas, na divisa de Belo Horizonte e Sabará, para substituir a que ruiu um dia antes do início do feriadão da semana santa por falta de manutenção.
Ali, José Augusto ficou por cerca de uma hora, tempo gasto para desengatar uma das duas caçambas de seu cavalo mecânico. Em seguida, dirigiu até o outro lado da ponte enquanto um colega, em outro caminhão enviado pela empresa, atravessava com o restante da carga. Encerrada a operação, nova parada na outra margem do rio, agora para retomar a carga e seguir viagem. O tempo gasto é o suficiente para rodar 60 quilômetros, conforme José Augusto.
Em uma BR como a 381, estreita e cheia de curvas que lhe renderam o título de Rodovia da Morte, isso significa impossibilidade de ultrapassagem com segurança e, consequentemente, mais tempo nas estradas. “Paro em casa três a quatro vezes por mês, e fico no máximo dois dias”, conta José Augusto, que mora em Ponta Grossa, no Paraná, é casado e tem um filho.
Só rezando
Rosimeire Paiva, moradora de Ravena, distrito de Sabará a cerca de 30 quilômetros de Belo Horizonte, às margens da BR 381, chegou nessa terça-feira às 12h50 ao ponto de ônibus que leva à capital, onde frequenta uma igreja. O objetivo era tomar a condução que, pelo quadro de horários da empresa administradora da linha, passaria às 12h55. O veículo passou somente 1 hora e 17 minutos depois do tempo previsto. Rosimeire embarcou, mas já sem esperanças de participar do culto, ãs 15h.
“Se fosse uma rodovia duplicada, o tempo para chegar a Belo Horizonte seria muito menor”, diz Rosimeire. Ela faz o trajeto duas vezes por semana, e, para conseguir circular mais rapidamente pela 381, só colocando o Ministério dos Transportes nas orações.
Do ponto em que Rosimeire aguardava o ônibus, às margens da BR-381, foi possível notar a forma pela qual outra moradora de Ravena, Marli Pedro Cerilo, é obrigada a conviver com a rodovia. Sem passarela por perto, a mulher, com a filha e o filho, de 12 e 5 anos, respectivamente, avança rapidamente sobre uma das pistas. Atravessa e percorre cerca de 100 metros ao lado de um guard-rail, ao centro da via. Corta a outra pista e segue em caminhada às margens da estrada, já do outro lado, sem qualquer proteção, até a entrada do Bairro Acampamento Batista, onde vive. “Faço isso até duas vezes por dia”, conta Marli.
Nessa terça-feira, ela fez todo o percurso, de cerca de três quilômetros, para buscar os filhos, que estão em férias, na casa da avó. Marli, assim como Rosimeire e o caminhoneiro José Augusto, têm as vidas entrelaçadas com a estrada. A expectativa é de que, independentemente do que for feito em Brasília, as medidas deem qualidade a essa coexistência.