Jornal Estado de Minas

Dilma tenta concluir faxina nos Transportes antes do fim do recesso parlamentar

Seis funcionários da pasta envolvida em fraudes são exonerados. Demissões desarticulam a rede de influência mantida pelo PR na área

Paulo de Tarso Lyra Tiago Pariz
Brasília – A presidente Dilma Rousseff colocou como meta resolver a crise no Ministério dos Transportes antes de o Congresso Nacional retomar os trabalhos, em 1º de agosto, para evitar que o segundo semestre se transforme em um fracasso para o Palácio do Planalto. Mas precisa encontrar o tempo certo para anunciar os novos integrantes da pasta, da Valec e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Ela sabe que se for precipitada na escolha correrá o risco de indicar um nome que não preencha os requisitos de "idoneidade moral e capacitação técnica", o que prejudicaria a imagem de "faxina ética" que ela tenta imprimir ao setor. Por outro lado, se demorar demais, o Congresso reabre os trabalhos com uma crise política instaurada, a base insegura em relação ao Executivo e uma pauta repleta de ciladas para o Palácio do Planalto.
O desmanche promovido pelo Palácio do Planalto prosseguiu nessa terça-feira, com a saída de mais seis servidores, a maioria ligada ao PR e ao homem forte do partido, o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP). A oposição também pressiona. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), protocolou nessa terça-feira requerimento pedindo a convocação do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, para falar sobre as denúncias de irregularidades na pasta. O requerimento foi protocolado na Comissão Representativa do Congresso Nacional, colegiado que reúne deputados e senadores indicados por seu partido para tomar decisões durante o recesso. Caberá agora ao presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP), decidir se convocará a comissão para deliberar o tema.

Três dos funcionários exonerados nessa terça-feira são ocupantes de postos-chaves do Dnit: o coordenador-geral de Operações Rodoviárias, Luiz Cláudio dos Santos Varejão; o coordenador-geral de Administração Geral, Mauro Sérgio Fatureto e o secretário de Fomento para Ações de Transportes do Ministério, Darcy Humberto Michiles, que pediu para deixar o cargo antes de ser exonerado.

Além disso, o Diário Oficial publicou a demissão da secretária de Michiles, Maria das Graças Fernando de Almeida. No Ministério dos Transportes, foram exonerados o subsecretário de Assuntos Administrativos, Estevam Pedrosa, lotado na Secretaria Executiva; e o assessor temporário do ministério, José Osmar Rocha.

Mais cortes à vista

Contando com Luiz Antônio Pagot, que está de férias mas será exonerado tão logo retorne ao trabalho, já são 12 servidores demitidos, afastados ou barrados para ocupar cargos desde o início da crise, em 2 de julho (veja quadro). Nessa terça-feira, o senador Blairo Maggi (PR-MT), padrinho político de Pagot, jogou a toalha. "Infelizmente, ele agora está saindo do cargo", disse.

No fim da tarde, o diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, Hideraldo Caron, ligado ao PT, foi convocado para uma reunião com o ministro. A tendência é de que ele também seja exonerado para que o PR não reclame de "perseguição política".

Confira os funcionários demitidos, afastados ou barrados para cargos no Ministério dos Transportes:

Alfredo Nascimento
Ministro da pasta desde o governo Lula, foi exonerado após cinco dias do início da crise, sob a suspeita de envolvimento no esquema de superfaturamento e cobrança de aditivos para obras para abastecer o caixa 2 do PR.

José Francisco, o Juquinha
Presidente da Valec - Ex-diretor da estatal criada para cuidar do setor ferroviário, foi exonerado após denúncias de superfaturamento em ferrovias.

Luiz Antônio Pagot
Diretor-geral do Dnit -Está de férias, mas vai ser exonerado quando retornar. Apontado como responsável por aditivos em obras rodoviárias.

Henrique Sadok de Sá
Diretor-geral do Dnit – Era secretário-executivo, virou diretor interino, mas foi exonerado após a descoberta de que sua mulher tinha contratos de R$ 18 milhões com o Dnit.

Frederico de Oliveira Dias
Era um mero boy, segundo Pagot, mas participava de solenidades de assinaturas de contratos e recebia parlamentares no gabinete
que tinha ao lado do diretor-geral do Dnit.

Luiz Cláudio dos Santos Varejão
Coordenador-geral de Operações Rodoviárias do Dnit. Era apontado como homem de confiança do diretor de Infraestrtura Rodoviária, o petista Hideraldo Caron. Foi exonerado ontem.

Mauro Sérgio Fatureto
Coordenador-geral de Administração do Dnit, tem ligações estreitas com o ex-ministro Alfredo Nascimento. Exonerado ontem.

Darcy Humberto Michiles
Secretário de Fomento para Ações de Transporte do Ministério dos Transportes, pediu para sair do cargo e foi atendido. Assim como Fatureto, é ligado a Nascimento.

Maria das Graças Fernando de Almeida
Secretária de Michiles, também demitida na lista publicada ontem.

Estevam Pedrosa
Subsecretário de Assuntos Administrativos da Secretaria-Executiva do Ministério dos Transportes. Exonerado ontem. Pedrosa trabalhava diretamente com o atual ministro, Paulo Sérgio Passos, que, antes da crise, era o secretário-executivo da pasta.

José Osmar Monte Rocha
Considerado afilhado de Valdemar Costa Neto (PR-SP), integrou o chamado Grupo Executivo, um comitê encarregado de administrar a dívida do antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), que deu origem ao Dnit.

Augusto César de Souza
Ouvidor do Dnit, não foi exonerado, mas sua indicação para o cargo de diretor de Administração e Finanças do Dnit foi retirada pela presidente Dilma Rousseff anteontem.