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Estado de Minas

Parente de Valdemar Costa Neto diz que ele "faz e acontece em Brasília"


postado em 21/07/2011 09:04 / atualizado em 21/07/2011 09:10

Meio-irmão e desafeto do deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP), com quem disputou na Justiça parte da herança da família, o advogado e professor de direito Frederico Augusto dos Santos Costa, 34 anos, conta nesta entrevista ao Correio como o parlamentar, mandachuva no Partido da República (PR), recuperou o prestígio na região de Mogi das Cruzes (SP), sua base eleitoral, depois do caso do mensalão.

Valdemar é réu no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF). A arma do deputado foi usar a influência no Ministério dos Transportes, segundo Frederico. “Ele vem e fala que faz e acontece, que manda e desmanda, que é a pessoa que pode trazer dinheiro de Brasília.” O irmão de Valdemar diz que, para reforçar a ingerência no ministério, o deputado levou de Mogi a Brasília pessoas como Frederico Augusto de Oliveira Dias, que atuava no Dnit sem ser contratado, a mando do parlamentar.

Valdemar e Frederico têm o mesmo pai: Waldemar Costa Filho, ex-prefeito de Mogi e morto em 2001. Frederico é filho de um caso extraconjugal de Waldemar com a manicure Isaura dos Santos, hoje aposentada. Procurada pelo Correio, a assessoria de imprensa do deputado Valdemar Costa Neto afirmou que ele está de férias e não teria intenção de comentar as declarações do meio-irmão.

Como Valdemar vem atuando na região desde o mensalão?

Ele deu uma sumida depois do escândalo. Deixou a poeira baixar e começou a voltar aos poucos. Já tinha conseguido estabelecer um vínculo bom com o prefeito da cidade. Antes, todo mundo tinha vínculos com ele, mas escondia, porque politicamente não era interessante tê-lo aparecendo. Na última campanha, foi uma briga para dizer quem estava com ele, para tentar desmoralizar o adversário. Valdemar foi retomando a visibilidade. Fez algumas emendas orçamentárias para Mogi das Cruzes, inclusive para obras dos viadutos da linha férrea, que já estão em fase de projeto. A cidade é cortada ao meio por uma linha de trem. Valdemar conseguiu recursos para três viadutos. É preciso que se investigue isso. Quem veio com Valdemar liberar o dinheiro, representando o governo federal, foi o Fred (Frederico Augusto de Oliveira Dias, servidor terceirizado demitido do Dnit).

Ficou claro que essa liberação ocorreu por influência de Valdemar?

Ele gritou para os quatro cantos de Mogi que foi ele que trouxe os viadutos. Agora ocorre uma discussão na cidade. Não se sabe se o dinheiro chegará por causa dos problemas no Ministério dos Transportes.

Você percebeu uma evolução do patrimônio financeiro do seu irmão desde o escândalo do mensalão?

Eu sei que ele tem um patrimônio que não tem origem. A pessoa não teve herança, não ganhou na loteria, não fez nada. Como esse patrimônio pode ter origem? Isso causa estranheza.

Você conversa com ele?

Não, desde sempre. O pai que a gente tem em comum não queria que tivéssemos contato. Quando passei a ter uma certa idade e ver a conduta, nunca tive interesse, nem tenho.

Como Valdemar demonstrava a influência dele no Dnit e no Ministério dos Transportes?

Ele vem e fala, com todas as palavras, que faz e acontece, que manda e desmanda, que é a pessoa que pode trazer dinheiro de Brasília. Ninguém imaginava que ele trazia recursos para a cidade querendo levar um percentual. Isso ele não contava. Ele demonstrava força por meio de pessoas como o Fred e outras da cidade, que trabalham diretamente no ministério ou nesse esquema de empresas terceirizadas. Todo mundo acreditava que o Fred era funcionário. Eu o conheço e acreditava que ele fosse um funcionário efetivo. Aqui em Mogi das Cruzes, ele participou da cerimônia dos viadutos e até assinou alguma coisa.

Como era a atuação de Frederico Augusto de Oliveira na cidade?

Ele presidiu por pouco tempo um clube de futebol, foi candidato a vereador por duas vezes e candidato a vice-prefeito. Depois deu uma sumida. Eu acredito que existem outras pessoas que também fazem o tipo de coisa que o Fred fazia. Elas foram para Brasília e aí ficaram. São pessoas de mais idade, com um vínculo bem maior de amizade com Valdemar. Se investigar, sai muita coisa.

Valdemar apareceu na cidade neste momento de crise no Ministério dos Transportes?

Ele não é uma figura de ficar circulando em Mogi. Tem um escritório aqui, mora na cidade, mas não é figura que se veja. Nos últimos tempos, vinha tentando retornar, pois aqui sempre foi a base eleitoral dele. Na eleição que renunciou e voltou, teve a pior votação. Valdemar passou a falar que é inocente, que será absolvido no mensalão, ressurgir das cinzas. Conseguiu ter a votação necessária. Veículos de comunicação locais passaram a dar espaço a ele, prefeitos o atendiam. Não era mais feio ter o Valdemar no gabinete, numa liberação de verba. Agora vai sumir de novo. Ninguém quer mais.


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