Na Região Amazônica, o controle do tráfego de pessoas e cargas nos rios equivale à administração de grandes rodovias. Depois da criação da Secretaria Especial de Portos, a Presidência da República transferiu para a nova pasta a competência pelas docas do país. A Codomar, no entanto, permaneceu sob a jurisdição do Ministério dos Transportes, pasta comandada até o início de julho pelo senador Alfredo Nascimento (PR-AM). A companhia é responsável por construir e reformar portos em municípios da Região Amazônica e concentra as obras no estado de origem do ex-ministro. Apesar de ser uma empresa de economia mista, a Codomar é sustentada, na maior parte, por convênios com o Dnit. De acordo com o Portal Transparência, a União já pagou R$ 304,3 milhões em convênios com a companhia desde 2007.
O loteamento político do PR também está presente na estatal que cuida dos rios. Mesmo fora do ministério, Nascimento mantém o aliado Silvio Romano Benjamin à frente da diretoria de Engenharia e Operações da Codomar. Benjamin, que foi secretário do parlamentar do PR quando ele era prefeito de Manaus, não quis comentar sua permanência no cargo, após a saída de Nascimento, nem os questionamentos do TCU sobre a incompatibilidade da manutenção da Codomar na estrutura da pasta. “Essa pergunta você pode fazer ao Ministério dos Transportes”, afirmou ao Correio.
Mas o diretor de Engenharia e Operações não é o único indicado de Nascimento na Codomar. Na administração das Hidrovias da Amazônia Ocidental, está o ex-deputado estadual Sibá Reis (PR-AM). Sem mandato, ele conseguiu um lugar na companhia graças ao ex-ministro. A proximidade entre Sibá e Nascimento é conhecida no estado. O senador do PR chegou a fazer doação de R$ 100 mil para a campanha do aliado, no ano passado.
Alegações
A assessoria do senador do PR respondeu ao Correio que “a Codomar é uma empresa vinculada ao Ministério dos Transportes e qualquer esclarecimento acerca de sua gestão deve ser procurado junto àquele órgão”. Ainda de acordo com a nota, a decisão de assumir a administração dos portos teve “cunho administrativo” e ocorreu porque os projetos da administração estadual não supriram a expectativa. “A decisão de reassumir a operação, rever a execução dos projetos e cobrar os responsáveis alcançou não apenas os terminais sob alçada do governo do Amazonas, mas também os projetos delegados às prefeituras e à própria Codomar; o que esvazia qualquer conotação política que se queira dar ao fato”, diz a nota. Nascimento também responde, por meio da assessoria, que Sílvio Romano Benjamin “foi designado para o cargo em decorrência de sua formação e conhecimento do setor”.
Apesar da argumentação, a realidade é que a inauguração e a construção de complexos fluviais nos municípios do interior do Amazonas se transformaram na melhor publicidade política que um candidato pode ter no estado. Como muitas dessas localidades não têm estradas e dependem de barcos para não ficarem isoladas, investimentos em infraestrutura portuária têm grande impacto na vida da população. Em um de seus últimos atos à frente do ministério, por exemplo, em junho passado, Alfredo Nascimento inaugurou o Porto de Parintins e anunciou que a pasta tomaria a administração de outras 26 unidades de pequenos municípios amazonenses.