O professor aposentado Adair Moreira também tem certeza do local de nascimento de Bernardes. Ele conta que seu avô José Gomes Moreira foi amigo de infância do então garoto Artur e que o futuro presidente se mudou para Viçosa quando tinha 5 anos, em 1880. A essa época, Cipotânea era apenas um distrito de São Caetano do Xopotó, que por sua vez pertencia à cidade do Alto do Rio Doce. O pai de Adair e filho de José Gomes Moreira, Levindo Moreira das Neves, com 103 anos, foi o primeiro prefeito depois da emancipação de Cipotânea, em 1953, e é testemunha do local de nascimento de Bernardes, repassando as histórias de pessoas que conviveram com o ex-presidente nos primeiros anos de vida.
Distante 90 quilômetros de Cipotânea, Viçosa ostenta na praça principal a Casa Artur Bernardes, museu com objetos e arquivos do ex-presidente reunidos na propriedade em que Bernardes morou. A coordenadora da casa, Helena Fortes, não tem dúvida. “Ele nasceu em Viçosa. Tem tudo aqui registrado”, afirma. Além disso, a casa e a ligação do ex-presidente com a cidade são argumentos fortes para sustentar o nascimento de Bernardes em Viçosa. O professor Adair apresenta, porém, outro argumento para defender o nascimento em Cipotânea: “A ponte de ferro, principal atração da cidade, foi construída durante o governo de Artur Bernardes na Presidência, de 1922 a 1926. “A família dele se mudou para Viçosa porque lá já era uma cidade constituída”, explica Adair.
Coincidência
Na linha do tempo, antes de Arthur Bernardes vieram os presidentes Delfim Moreira e Epitácio Pessoa – por sinal, eles nasceram em Cristina, no Sul de Minas, e em Umbuzeiro, na Paraíba, respectivamente –, que governaram o Brasil entre 1918 e 1922. Os dois sucederam a Wenceslau Braz, que compartilha com Bernardes a dúvida sobre o local de nascimento. Eleito presidente em 1914, Wenceslau Braz derrotou Rui Barbosa e foi um dos pilares da sustentação da política do café com leite, como era chamada a alternância de poder entre mineiros e paulistas no período denominado de República Velha, que compreende o início da República, em 1889, e a Revolução de 1930.
Coladinhas uma na outra, Itajubá e Brasópolis, no Sul de Minas, disputam o posto de berço de Wenceslau Braz. Enganam-se aqueles que relacionam o nome de Brasópolis a uma referência direta ao filho mais ilustre. O topônimo é mera coincidência e tem como origem a homenagem ao coronel Francisco Braz Pereira Gomes. Na segunda metade do século 19, quando o ex-presidente nasceu, o local era distrito de Itajubá, chamado de São Caetano da Vargem Grande.
Desse detalhe nasce a confusão, com cada uma das cidades puxando o ex-presidente para seu lado. A secretária de Cultura e Turismo de Itajubá, Fábia Izidora, não tem dúvida de que Wenceslau nasceu em sua cidade. “Foi no distrito de São Caetano da Vargem Grande, que, com a emancipação, virou Brasópolis. Mas à época pertencia a Itajubá”, argumenta. A certeza é tanta que no mês que vem será inaugurada uma ala no museu da cidade com objetos do ex-presidente. “São abotoaduras, bengalas e uma série de documentos”, conta Fábia. Além disso, a cidade rende uma série de homenagens a ele, com nomes de edificações públicas, como a escola estadual e o tombamento histórico da casa onde ele morou.
Já a secretária de Cultura de Brasópolis, Maria Elizabete Gomes Faria, lamenta que o Solar dos Brás, casa em que o ex-presidente nasceu e que foi durante anos sede da escola, tenha sido demolido. “É o filho mais ilustre da cidade. Ele nasceu no distrito que deu origem a Brasópolis”, sustenta Elizabeth.