Tão logo Alvaro Dias começou a anunciar a obtenção das assinaturas à tarde, uma reunião informal foi realizada no cafezinho do Senado. Preocupados, os líderes do PMDB, Renan Calheiros (AL); do PT, Humberto Costa (PE); do governo, Romero Jucá (PMDB-RR); e o senador Benedito de Lira (PP-AL) tentavam traçar estratégias para anular a derrota do Planalto. "Uma CPI nunca é boa para o governo", admitiu Jucá. Renan disse que era preciso ver quantas assinaturas existiam, se a CPI tinha fato determinado e como estava o requerimento. "Já tivemos muitas CPIs aqui no Congresso que não chegaram a lugar nenhum. Esse instrumento foi completamente banalizado nos últimos anos", ressaltou o peemedebista.
Mas as críticas ao passado não ajudaram a situação presente. No PMDB, os quatro dissidentes – Roberto Requião (PR), Pedro Simon (RS), Ricardo Ferraço (ES) e Jarbas Vasconcelos (PE) – apoiaram a criação da comissão. "Houve uma orientação clara à bancada para que não assinasse a CPI. Eu conversei hoje, pessoalmente, com o Ferraço", completou Renan. Ele saiu com essa missão após um almoço da cúpula do partido com o vice-presidente da República, Michel Temer. "São os mesmos quatro que assinaram a CPI do caso Palocci", acrescentou Renan.
O senador Benedito de Lira espera que o retorno nesta quarta-feira do líder do partido na Casa e presidente da legenda, Francisco Dornelles (RJ), consiga mudar o voto dos pepistas. Sobre os dissidentes, Lira admite que a senadora Ana Amélia (RS) sempre teve uma postura independente em relação à sigla e pouco falou de Reditário Cassol (RO), pai do senador licenciado Ivo Cassol: "Eu o conheço pouco".
Aposta na reação negativa de aliados
Com a coleta das assinaturas, Alvaro Dias estava exultante. O movimento do PSDB e do DEM no plenário durante o discurso de Alfredo Nascimento – além dos senadores, havia a presença de deputados de ambos os partidos – indicava que a oposição apostava suas fichas no estrago que o pronunciamento do ex-ministro dos Transportes poderia fazer. "Conseguimos as assinaturas porque há um espaço de insatisfação dentro da base aliada. Existe um modelo de corrupção no governo e essa CPI será importante para desmontar essa estrutura", declarou Alvaro.
O tucano tentou, mas não conseguiu, que o próprio Nascimento assinasse a CPI. "É a sua chance, senador Alfredo. O senhor concordou em ser investigado pela Procuradoria-Geral da República, apoie a CPI aqui no Senado!" Alfredo não se comoveu com a abordagem do colega. "Eu dei a autorização para me investigar. Por acaso a sua investigação é melhor do que a da PGR?", rebateu Nascimento.