Brasília – No Congresso, ninguém conseguiu explicar de onde veio a fagulha que acendeu a fúria verbal e resultou na queda de Nelson Jobim. As declarações do ex-titular do Ministério da Defesa, desqualificando duas ministras do governo Dilma Rousseff, deixaram os parlamentares da base atônitos e a oposição entusiasmada. A bancada tucana já trabalha para trazer o ex-ministro para seus quadros. O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), afirmou que a bancada tucana tem almoço marcado com Jobim para a terça-feira e que o encontro foi uma solicitação do ex-ministro. “Ele pediu o almoço há mais de um mês. Quem defende a comissão da verdade só pode falar a verdade”, resume Dias. O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), ofereceu a legenda para Jobim e disse que as portas do partido estão abertas. “A ficha sempre foi dele. Se ele vier, será muito bem recebido.”
Para não comprometer a relação do PMDB com o governo, correligionários de Jobim tentam colocar panos quentes nos ataques do ex-ministro. Afirmam que as declarações foram fruto de conversa descontraída e não representavam opinião institucional. A cúpula do PMDB se reuniu com Jobim na última terça-feira. Depois do encontro, o ex-ministro teria “ficado mais calmo”, mas a entrevista para a Piauí foi gravada antes do encontro com os colegas de partido.
O presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), elogiou a escolha de Celso Amorim para substituir Jobim. Raupp afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que o partido filiasse Amorim, mas o processo foi complicado, porque o chanceler era ligado ao PT. “Jobim é um quadro importantíssimo do partido, mas a Defesa é um cargo de competência da presidente. O partido não se sente ressentido com a substituição. As declarações foram feitas em conversas informais, o Jobim não é de falar isso, não”, defendeu Raupp.
Fortinha
Apesar de o presidente do partido afirmar que a legenda não perdeu um posto na Esplanada dos Ministério, nem todos os correligionários gostaram das declarações do líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), sobre a “titularidade” da cota peemedebista no Ministério da Defesa. Alves afirmou que Jobim não era da cota do PMDB e o senador Roberto Requião (PMDB-PR) rebateu. “Então eu quero uma lista com o nome dos indicados na cota do PMDB”, ironizou Roberto Requião (PMDB-PR).
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) “garantiu” que nenhum episódio recente explica a reação de Jobim. “Não consigo entender um ministro competente dizer que a Ideli é fraquinha e que a Gleisi não conhece Brasília. Alguma coisa soa mal”, disse o parlamentar. A senadora Ângela Portela (PT-ES) e a deputada Janete Pietá (PT-SP) repudiaram as declarações de Jobim. “Queremos expressar nosso repúdio pela violência de um ministro que sempre desfrutou de todo o respeito e consideração. Pelo ataque verbal desnecessário poderá criar um clima conflituoso que em nada contribuirá para a construção da democracia”, escreveram as petistas.