Jornal Estado de Minas

Quadrilha que agia no Turismo tinha laços no TCU

ONG acusada de desvios contratou escritório de advocacia de filho de ministro para tentar se antecipar às investigações. Em gravação, secretário ensina a montar organização de fachada

Tiago Pariz, Alana Rizzo e Igor Silveira
Brasília – A organização criminosa formada para desviar recursos públicos do Ministério do Turismo tinha laços dentro do Tribunal de Contas da União (TCU). Antes de ser desbaratada pela Polícia Federal (PF) na Operação Voucher, a quadrilha contratou o escritório do filho do ministro do TCU Aroldo Cedraz para defender os interesses do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi) e inocentá-lo de qualquer irregularidade. Uma auditoria do tribunal detectou fraudes no convênio para capacitação turística no Amapá que originou a ação da PF na terça-feira.
Outra parte da investigação da PF mostra como empresas fantasmas eram orientadas para receber verbas de convênio. Gravação telefônica da Operação Voucher mostra o secretário-executivo do Turismo, Frederico Silva da Costa, ensinando um empresário a montar uma organização não governamental de fachada. Na gravação, Frederico conversa com o empresário Fábio Mello, um dos presos na operação, sobre como criar um instituto para ele parecer verdadeiro. "O importante é a fachada, e tem que ser uma coisa moderna, que inspire confiança em relação ao tamanho das coisas que vocês estão fazendo", disse o secretário-executivo ao empresário.

Dezoito dos 36 presos continuam no Instituto de Administração Penitenciária do Amapá, em Macapá - Foto: Wilson Pedrosa/AE Trechos de escutas telefônicas incluídos no inquérito mostram o advogado Romildo Olgo Peixoto Júnior, sócio de Tiago Cedraz, filho do ministro do TCU, acalmando o empresário Luiz Gustavo Machado, dono do Ibrasi e apontado como chefe da quadrilha. "Já temos a proposta dos analistas do tribunal", diz Romildo numa gravação, feita com autorização da Justiça, em 27 de maio, antes mesmo de a corte ter autorizado oficialmente a cópia dos autos. Em outro grampo telefônico, Romildo reforça as relações familiares do escritório. "Bom, quanto ao tribunal nós sabemos tudo que está se passando." Para a PF, a quadrilha "buscou resguardar-se de uma possível decisão prejudicial do TCU ao contratar para a sua defesa o advogado Tiago Cedraz".

O grupo de Machado, percebendo que o esquema seria descoberto, começou também uma incursão dentro Ministério do Turismo, usando a influência antiga com servidores que integravam o esquema. Frederico da Costa reuniu-se com o empresário Luiz Gustavo Machado para discutir uma solução para as acusações da Secretaria de Controle Externo do TCU no Amapá, que já havia constatado que os serviços não foram prestados no estado. Naquela reunião, segundo a Polícia Federal, Frederico estava acompanhado de seu assessor Antônio dos Santos Júnior Machado. Depois da reunião, Machado ligou para a sócia no Ibrasi, Maria Helena Necchi, e revelou as intenções do grupo de limpar os documentos do convênio e preparar as respostas para o TCU. Além do secretário-executivo, eles contavam com a ajuda de diversos servidores (veja quadro).

O Ministério Público Federal aponta que Frederico da Costa, Mário Moysés e Colbert Martins atuaram em conluio com os fiscais do ministério para facilitar a liberação dos recursos para o Ibrasi no convênio de R$ 4 milhões para a capacitação técnica.

Em nota, o ministro Aroldo Cedraz afirma que desde que assumiu o cargo no TCU seu filho não atua em processos na Casa. O ministro afirma ainda que não é relator de processos envolvendo o Turismo ou o estado do Amapá. "Por essas razões, não é cabível qualquer tipo de ilação que pretenda associar o senhor ministro com os recentes fatos ocorridos relativamente ao Ministério do Turismo.”