Brasília – A organização criminosa formada para desviar recursos públicos do Ministério do Turismo tinha laços dentro do Tribunal de Contas da União (TCU). Antes de ser desbaratada pela Polícia Federal (PF) na Operação Voucher, a quadrilha contratou o escritório do filho do ministro do TCU Aroldo Cedraz para defender os interesses do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi) e inocentá-lo de qualquer irregularidade. Uma auditoria do tribunal detectou fraudes no convênio para capacitação turística no Amapá que originou a ação da PF na terça-feira.
Trechos de escutas telefônicas incluídos no inquérito mostram o advogado Romildo Olgo Peixoto Júnior, sócio de Tiago Cedraz, filho do ministro do TCU, acalmando o empresário Luiz Gustavo Machado, dono do Ibrasi e apontado como chefe da quadrilha. "Já temos a proposta dos analistas do tribunal", diz Romildo numa gravação, feita com autorização da Justiça, em 27 de maio, antes mesmo de a corte ter autorizado oficialmente a cópia dos autos. Em outro grampo telefônico, Romildo reforça as relações familiares do escritório. "Bom, quanto ao tribunal nós sabemos tudo que está se passando." Para a PF, a quadrilha "buscou resguardar-se de uma possível decisão prejudicial do TCU ao contratar para a sua defesa o advogado Tiago Cedraz".
O grupo de Machado, percebendo que o esquema seria descoberto, começou também uma incursão dentro Ministério do Turismo, usando a influência antiga com servidores que integravam o esquema. Frederico da Costa reuniu-se com o empresário Luiz Gustavo Machado para discutir uma solução para as acusações da Secretaria de Controle Externo do TCU no Amapá, que já havia constatado que os serviços não foram prestados no estado. Naquela reunião, segundo a Polícia Federal, Frederico estava acompanhado de seu assessor Antônio dos Santos Júnior Machado. Depois da reunião, Machado ligou para a sócia no Ibrasi, Maria Helena Necchi, e revelou as intenções do grupo de limpar os documentos do convênio e preparar as respostas para o TCU. Além do secretário-executivo, eles contavam com a ajuda de diversos servidores (veja quadro).
O Ministério Público Federal aponta que Frederico da Costa, Mário Moysés e Colbert Martins atuaram em conluio com os fiscais do ministério para facilitar a liberação dos recursos para o Ibrasi no convênio de R$ 4 milhões para a capacitação técnica.
Em nota, o ministro Aroldo Cedraz afirma que desde que assumiu o cargo no TCU seu filho não atua em processos na Casa. O ministro afirma ainda que não é relator de processos envolvendo o Turismo ou o estado do Amapá. "Por essas razões, não é cabível qualquer tipo de ilação que pretenda associar o senhor ministro com os recentes fatos ocorridos relativamente ao Ministério do Turismo.”