Brasília – A quadrilha que fraudou convênios do Ministério do Turismo e desviou recursos públicos conseguiu montar uma ampla rede de influência envolvendo órgãos públicos, incluindo a Caixa Econômica Federal (CEF). Dois servidores do banco estatal atuaram diretamente com a cúpula da ONG Ibrasi para favorecer acesso a dados, cientes de que estavam cometendo crime de quebra de sigilo funcional, segundo as investigações da Polícia Federal. A Ibrasi está no centro do escândalo envolvendo o Ministério do Turismo, acusada de desviar recursos de emendas parlamentares destinadas a capacitação profissional no Amapá. Ao todo, 38 pessoas foram presas pela PF na quarta-feira, acusadas de envolvimento na fraude, incluindo o secretário-executivo da pasta, Frederico Silva da Costa.
Preocupados com as investigações do Tribunal de Contas da União (TCU), os funcionários do Ibrasi montam uma rede de influência para adulterar dados, modificar documentos e forçar pagamentos na Caixa. Em uma das gravações da PF, Katiana conversa por telefone com um funcionário identificado apenas como Edmilson e pede que ele mande documentos relacionados aos convênios. No telefonema, o servidor do banco faz um alerta: "Vou te mandar um documento que você tem a obrigação de me tirar aquela parte confidencial. (…) Isso é extremamente confidencial", frisa, no grampo feito em 2 de maio. A Polícia Federal considera que pode ter havido quebra de sigilo funcional.
Em outra ligação, Katiana trata sobre pagamentos que ela não conseguiria fazer e pede que o servidor, chamado Rodolfo, efetive a transferência mesmo sem a assinatura de Luiz Gustavo Machado. Como o dono do Ibrasi não estava em São Paulo, mas em Macapá, a filha de Maria Helena pede que Rodolfo faça vista grossa caso a assinatura do chefe não seja igual ao arquivado na agência. O funcionário responde positivamente. "Nem que eu peça para ele fazer a assinatura 20 vezes para ter uma parecida com a que tem aí", disse Katiana, de acordo com o grampo feito em 3 de maio. As investigações da PF mostraram que Luiz Gustavo estava em Macapá naquele dia e que a assinatura era falsificada.
Repasses A preocupação dos funcionários do Ibrasi em realizar pagamentos era que a conta 612-3 na Caixa que recebia os repasses do governo federal passava meses sem nenhuma movimentação financeira, segundo extratos bancários obtidos pelo Estado de Minas. O convênio do Ministério do Turismo, no entanto, estava em plena execução e os pagamentos aos prestadores de serviço deveriam estar acontecendo. Em 6 de janeiro, o Ibrasi recebeu R$ 1 milhão, que se somou a outros R$ 2 milhões, depositados em outubro do ano passado. Nos quatro meses seguintes a Caixa não registrou nenhum lançamento na conta poupança. Em maio, o saldo da conta-poupança do Ibrasi era de pouco mais de R$ 3 milhões.
O Estado de Minas mostrou ontem que a rede de influência dos empresários do Ibrasi passa também pelo Tribunal de Contas da União. Dentro do Ministério do Turismo, uma das principais colaboradoras era a servidora Kérima Silva Carvalho. Em uma conversa gravada, Katiana pede que Kérima altere dados incluídos no Sistema de Convênios do governo federal para provar que não há irregularidade nos convênios firmados para capacitação profissional e fortalecimento do turismo no Amapá. A Caixa Econômica Federal informou ter todo o interesse em apurar a denúncia, assim que for informada oficialmente pelos órgãos competentes.