Em 4 de agosto, parentes do ex-presidente João Goulart entraram no gabinete da ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, na tentativa de encerrar a última linha de um episódio com início há 50 anos. A renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, inseriu o país em zona de turbulência que só teria fim com a redemocratização, 24 anos depois. Então vice-presidente, Jango conseguiu assumir o poder a partir de uma campanha planejada pelo à época governador gaúcho, o cunhado Leonel Brizola, que chegou a sonhar com uma reedição da Revolução de 1930. Presidente a partir de uma decisão instável de Jânio, foi com a mesma instabilidade política que Jango protelou o golpe militar fracassado em 1961 até o último dia de março de 1964. Se os motivos da renúncia de Jânio foram parcialmente revelados pelo ex-presidente nos últimos anos de vida, as circunstâncias da morte de Jango permanecem veladas. E é esse véu que a família Goulart pretende remover.
Morto no exílio, em dezembro de 1976, com atestado de óbito indicando apenas “enfermidade”, Goulart não passou por autópsia. Agora, a viúva e os filhos do ex-presidente pretendem exumar o corpo, certos de que o político morreu envenenado. “Não temos interesses econômicos, minha mãe já foi até anistiada. Queremos pôr um ponto final na nossa angústia”, diz o filho mais velho de Jango, João Vicente Goulart. O caso, aberto por determinação da subprocuradora-geral da República, Gilda de Carvalho, em junho, está nas mãos do Ministério Público no Rio Grande do Sul.
Em 25 de agosto de 1961, em uma carta com referências a “forças ocultas”, Jânio Quadros deixou o Palácio do Planalto depois de apenas sete meses de governo. Quando prefeito de São Paulo, antigos colaboradores relatam que não eram novidade pedidos de renúncia do político em momentos de tensão. Para não correr o risco de o vice assumir, tratou de despachar Goulart a uma viagem oficial à China. A diferença é que, se na capital paulista as renúncias sempre foram engavetadas, em Brasília ela virou realidade. “Não havia suspeita nenhuma de fragilidade do governo, nem instabilidade. A renúncia propiciou tudo isso”, diz o cientista político da Universidade de Brasília Octaciano Nogueira.
Saída
Jango soube da renúncia quando se preparava para voar, em Cingapura. Retornou às pressas, mas, diante da ameaça iminente de golpe pelos militares, preferiu aterrissar em Montevidéu, Uruguai. Brizola montou uma rádio nos porões do Palácio Piratini, armou 2 mil civis e, de lá, passou a transmitir discursos pregando o respeito à Constituição e à posse do vice-presidente. Com a adesão do 3º Exército, o protesto virou levante e Jango aceitou assumir a Presidência. Depois de tomar posse, em 7 de setembro de 1961, Jango acabaria deposto em 1º de abril de 1964. “Brizola fez a campanha da legalidade, mas estava defendendo, na verdade, muito mais uma posição de poder do que a Constituição. Se Jango era o herdeiro primeiro de Getúlio Vargas, a linha sucessória tinha o próprio Brizola logo abaixo e ele vislumbrava isso”, analisa o cientista político do Insper Carlos Mello.
A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, acenou com a possibilidade de escalar o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, fundado pelo próprio João Goulart, para auxiliar nas investigações sobre a morte do ex-presidente. Quanto à exumação pedida pela família, o assunto deve ficar restrito ao MPF e à Justiça. “Não temos poder para investigar, chamar um general argentino para depor, mas o governo, uma Comissão da Verdade teriam”, afirma João Vicente.
Morto no exílio, em dezembro de 1976, com atestado de óbito indicando apenas “enfermidade”, Goulart não passou por autópsia. Agora, a viúva e os filhos do ex-presidente pretendem exumar o corpo, certos de que o político morreu envenenado. “Não temos interesses econômicos, minha mãe já foi até anistiada. Queremos pôr um ponto final na nossa angústia”, diz o filho mais velho de Jango, João Vicente Goulart. O caso, aberto por determinação da subprocuradora-geral da República, Gilda de Carvalho, em junho, está nas mãos do Ministério Público no Rio Grande do Sul.
Em 25 de agosto de 1961, em uma carta com referências a “forças ocultas”, Jânio Quadros deixou o Palácio do Planalto depois de apenas sete meses de governo. Quando prefeito de São Paulo, antigos colaboradores relatam que não eram novidade pedidos de renúncia do político em momentos de tensão. Para não correr o risco de o vice assumir, tratou de despachar Goulart a uma viagem oficial à China. A diferença é que, se na capital paulista as renúncias sempre foram engavetadas, em Brasília ela virou realidade. “Não havia suspeita nenhuma de fragilidade do governo, nem instabilidade. A renúncia propiciou tudo isso”, diz o cientista político da Universidade de Brasília Octaciano Nogueira.
Saída
Jango soube da renúncia quando se preparava para voar, em Cingapura. Retornou às pressas, mas, diante da ameaça iminente de golpe pelos militares, preferiu aterrissar em Montevidéu, Uruguai. Brizola montou uma rádio nos porões do Palácio Piratini, armou 2 mil civis e, de lá, passou a transmitir discursos pregando o respeito à Constituição e à posse do vice-presidente. Com a adesão do 3º Exército, o protesto virou levante e Jango aceitou assumir a Presidência. Depois de tomar posse, em 7 de setembro de 1961, Jango acabaria deposto em 1º de abril de 1964. “Brizola fez a campanha da legalidade, mas estava defendendo, na verdade, muito mais uma posição de poder do que a Constituição. Se Jango era o herdeiro primeiro de Getúlio Vargas, a linha sucessória tinha o próprio Brizola logo abaixo e ele vislumbrava isso”, analisa o cientista político do Insper Carlos Mello.
A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, acenou com a possibilidade de escalar o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, fundado pelo próprio João Goulart, para auxiliar nas investigações sobre a morte do ex-presidente. Quanto à exumação pedida pela família, o assunto deve ficar restrito ao MPF e à Justiça. “Não temos poder para investigar, chamar um general argentino para depor, mas o governo, uma Comissão da Verdade teriam”, afirma João Vicente.