Surpresa A Marcha das Margaridas, que levou 70 mil mulheres a Brasília, acabou rivalizando com a saída de Rossi do ministério. Enquanto Dilma e seis ministros participavam do evento no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, Rossi chegava ao gabinete do vice-presidente Michel Temer com a carta de demissão em mãos. O vice-presidente tentou demovê-lo da decisão, mas ele alegou que até seus netos estavam sendo incomodados no colégio.
Como não havia nada a fazer, Temer ligou para o gabinete presidencial para que ambos fossem conversar com a presidente. Quando a presidente chegou ao Palácio do Planalto, foi surpreendida com o pedido de demissão do peemedebista. Ao final do dia, o vice-presidente foi direto: “O Wagner Rossi me procurou por razões familiares, a família o pressionou enormemente. A presidente insistiu muitíssimo para que ele permanecesse, mas ele resistiu e disse que não teria condições de continuar”, contou Temer.
Partido dividido
A escolha de Mendes Ribeiro para a vaga de Wagner Rossi não significa paz no PMDB. Na manhã de quarta-feira, um grupo de 35 deputados – de uma bancada de 78 – reuniu-se na Câmara para reclamar do tratamento que o partido vem recebendo do governo e da falta de articulação entre setores da bancada e o líder na Casa, Henrique Eduardo Alves. O estopim da crise foi a entrega da relatoria do Código de Processo Civil ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Há um consenso de que as melhores relatorias são entregues ao pemedebista fluminense.
Eles também reclamam que Henrique preocupa-se mais com sua candidatura precoce à presidência da Câmara dos Deputados do que em defender os interesses da bancada. E que adotou o discurso repetitivo de “liberação de restos a pagar e emendas parlamentares”, o que gera antipatia para a legenda perante a opinião pública, atrelando-a à pecha de fisiologista. Já há quem diga que o cargo de líder estaria ameaçado – alguns parlamentares, inspirados pela revolução jovem que eclode em diversos pontos do mundo, defendem o nome de Lúcio Vieira Lima (BA), que está no primeiro mandato e é irmão do vice-presidente de Crédito para Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima.
Na reunião do grupo dissidente, o deputado Danilo Forte (PMDB-CE), ex-presidente da Funasa, defendeu que os peemedebistas deveriam entregar todos os cargos que têm na administração federal. “O PMDB é muito grande para apenas ser chamado a votar com o governo. Ou somos parceiros para discutir políticas públicos ou passamos a ser independentes do Planalto”, defendeu ele.
O mesmo grupo também defende a saída do ministro do Turismo, Pedro Novais. Os parlamentares alegam que ele está “visado” após as denúncias envolvendo o ministério na Operação Voucher e teria perdido a capacidade política de ´ operar para o partido.
Deslizes da presidente
A presidente Dilma Rousseff não conseguiu esconder ontem que os recentes escândalos envolvendo integrantes do primeiro escalão têm consumido tempo e atenção nos últimos dias. A presidente citou ontem, sem querer, o nome de dois ex-ministros, durante discurso no encerramento da Marcha das Margaridas. Ao cumprimentar o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, chamou-o de “Agnelo Rossi” – numa referência implícita a Wagner Rossi, que demitiu-se ontem da Agricultura. Corrigiu o deslize logo em seguida. Mais à frente, usou trocou o nome do Contag, Alberto Broch, referindo-se a ele como Alfredo. O ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, anunciou na terça que o PR deixa a base de apoio ao governo no Congresso.