Jornal Estado de Minas

PMDB define nome para substituir Rossi na Agricultura

Partido escolheu líder do governo no Congresso, Mendes Ribeiro Filho, para assumir ministério

Denise Rothenburg Paulo de Tarso Lyra Débora Álvares
Deputado Mendes Ribeiro Filho será o novo ministro da Agricultura - Foto: José Varella/CB/D.A Press Três horas depois de o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, virar “ex”, a cúpula do PMDB entregou à presidente Dilma Rousseff o nome do substituto: o líder do governo no Congresso, deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS). Ele foi recebido no gabinete do vice-presidente Michel Temer, padrinho da indicação de Rossi, pouco depois das 20h, quando toda a cúpula do PMDB foi chamada para avaliar as opções, uma vez que Dilma, pega de surpresa pelo pedido de demissão de Rossi, decidiu manter a pasta nas mãos do partido. Jorge Alberto Portanova Mendes Ribeiro Filho, ou simplesmente, Mendes Ribeiro, ou “Mendinho”, como os amigos o chamam, é visto como um nome que agrada a todos os grupos do PMDB e ainda ajuda o partido em outras frentes.
A primeira é abrir caminho para que o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), possa fazer do senador Eduardo Braga (PMDB-AM) o líder do governo no Congress, e, assim, dar uma atenção ao G-8, o grupo de senadores que, por vezes, se torna uma pedra no sapato de Renan, clamando por espaço político. Para completar, o primeiro suplente de Mendes na Câmara é Eliseu Padilha, que ocupou o Ministério dos Transportes no governo Fernando Henrique Cardoso e é ligadíssimo a Michel Temer. A ideia inicial era apenas aproveitar a saída de Rossi para tentar colocar na Agricultura um nome que pudesse ajudar a cúpula do partido a arrefecer a rebelião deflagrada ontem na bancada. Pela manhã, 35 deputados do PMDB se reuniram para criticar a “ditadura interna” impetrada pelo líder Henrique Eduardo Alves (RN) e seu principal parceiro, o deputado Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro. Quando perceberam que Mendes Ribeiro se encaixava perfeitamente em todos os quadros, Temer foi conversar com Dilma.

Surpresa A Marcha das Margaridas, que levou 70 mil mulheres a Brasília, acabou rivalizando com a saída de Rossi do ministério. Enquanto Dilma e seis ministros participavam do evento no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, Rossi chegava ao gabinete do vice-presidente Michel Temer com a carta de demissão em mãos. O vice-presidente tentou demovê-lo da decisão, mas ele alegou que até seus netos estavam sendo incomodados no colégio.

Como não havia nada a fazer, Temer ligou para o gabinete presidencial para que ambos fossem conversar com a presidente. Quando a presidente chegou ao Palácio do Planalto, foi surpreendida com o pedido de demissão do peemedebista. Ao final do dia, o vice-presidente foi direto: “O Wagner Rossi me procurou por razões familiares, a família o pressionou enormemente. A presidente insistiu muitíssimo para que ele permanecesse, mas ele resistiu e disse que não teria condições de continuar”, contou Temer.

Partido dividido

A escolha de Mendes Ribeiro para a vaga de Wagner Rossi não significa paz no PMDB. Na manhã de quarta-feira, um grupo de 35 deputados – de uma bancada de 78 – reuniu-se na Câmara para reclamar do tratamento que o partido vem recebendo do governo e da falta de articulação entre setores da bancada e o líder na Casa, Henrique Eduardo Alves. O estopim da crise foi a entrega da relatoria do Código de Processo Civil ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Há um consenso de que as melhores relatorias são entregues ao pemedebista fluminense.

Eles também reclamam que Henrique preocupa-se mais com sua candidatura precoce à presidência da Câmara dos Deputados do que em defender os interesses da bancada. E que adotou o discurso repetitivo de “liberação de restos a pagar e emendas parlamentares”, o que gera antipatia para a legenda perante a opinião pública, atrelando-a à pecha de fisiologista. Já há quem diga que o cargo de líder estaria ameaçado – alguns parlamentares, inspirados pela revolução jovem que eclode em diversos pontos do mundo, defendem o nome de Lúcio Vieira Lima (BA), que está no primeiro mandato e é irmão do vice-presidente de Crédito para Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima.

Na reunião do grupo dissidente, o deputado Danilo Forte (PMDB-CE), ex-presidente da Funasa, defendeu que os peemedebistas deveriam entregar todos os cargos que têm na administração federal. “O PMDB é muito grande para apenas ser chamado a votar com o governo. Ou somos parceiros para discutir políticas públicos ou passamos a ser independentes do Planalto”, defendeu ele.

O mesmo grupo também defende a saída do ministro do Turismo, Pedro Novais. Os parlamentares alegam que ele está “visado” após as denúncias envolvendo o ministério na Operação Voucher e teria perdido a capacidade política de ´ operar para o partido.

Deslizes da presidente


A presidente Dilma Rousseff não conseguiu esconder ontem que os recentes escândalos envolvendo integrantes do primeiro escalão têm consumido tempo e atenção nos últimos dias. A presidente citou ontem, sem querer, o nome de dois ex-ministros, durante discurso no encerramento da Marcha das Margaridas. Ao cumprimentar o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, chamou-o de “Agnelo Rossi” – numa referência implícita a Wagner Rossi, que demitiu-se ontem da Agricultura. Corrigiu o deslize logo em seguida. Mais à frente, usou trocou o nome do Contag, Alberto Broch, referindo-se a ele como Alfredo. O ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, anunciou na terça que o PR deixa a base de apoio ao governo no Congresso.