Procurados para explicar os detalhes dos compromissos assumidos com os clientes e como é feito o acordo com os habitantes dos municípios vizinhos, os donos da Funerária Teófilo Otoni não receberam a equipe de reportagem. Na sede da empresa, na cidade do mesmo nome, os funcionários contaram que a empresa chegou na região em 1998 e hoje já está presente em 27 municípios no Vale do Jequitinhonha e tem duas filiais no Sul da Bahia. Segundo eles, a funerária foi criada por dois irmãos, que dividiram entre si as áreas de atuação e passaram a oferecer serviços diferenciados em relação aos concorrentes, como por exemplo lanches melhores nos funerais.
A reportagem tentou falar com o presidente do Sindicato das Empresas Funerárias de Minas Gerais (Sindinef), José Afonso Real, mas não conseguiu. Foi informada de que ele estava no interior, sem contato por celular.
Projeto tenta criar regras para o setor
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada pela Câmara dos Deputados para investigar planos de saúde passou perto dos funerários, depois do recebimento de denúncias de irregularidades nesse tipo de serviço, como falta de contratos e prestação de serviços médicos. Como quase toda CPI essa, concluída em 2003, deu em nada. No relatório final, os deputados sugeriram a regulamentação urgente do serviço, mas nada disso ocorreu. Projetos para regular o setor foram apresentados há mais de uma década e até hoje não viraram leis.
Ano passado começou a tramitar no Congresso Nacional um novo projeto de lei para regulamentar os planos funerários, uma reivindicação dos próprios empresários do setor. Relatado pelo deputado federal Eduardo Barbosa (PSDB-SP), o projeto propõe regras como a exigência de “contratos escritos que obriguem exclusivamente a prestação de serviços de assistência funerária”. Prevê também a constituição de reservas financeiras e de capital mínimo proporcional ao número de contratos e a realização de auditorias contábeis. O deputado disse que pretende apresentar seu relatório no mês que vem. Segundo ele, é preciso que existam regras bem claras dando garantias aos usuários desse serviço, que está se disseminando em todo país, sem nenhum tipo de fiscalização e controle.
Barbosa destaca que essa legislação é fundamental, pois a maioria absoluta de usuários desse serviço são pessoas de baixa renda, cuja família não tem como arcar com as despesas de enterro em caso de morte de alguma parente e acabam, muitas vezes, endividadas. A falta de contrato, como acontece nos casos relatados, segundo ele, é uma das principais preocupações.
Outros projetos pretendem proibir que agentes funerários sejam lotados na rede pública de saúde ou em hospitais que atendem pelo SUS ou trabalhem clandestinamente nesses locais em busca de clientes.