Jornal Estado de Minas

Renúncia de Jânio Quadros completa 50 anos

Para onde foi o brasil

Marcelo da Fonseca- enviado especial

Acompanhado de partidários, Jânio Quadros parte para seu exílio após renunciar em 1961. - Foto: Ronaldo Moraes/O Cruzeiro/EM/D.A PressSe criatividade fosse o critério mais importante na hora de escolher os representantes, seria difícil – mesmo lembrando as propagandas recentes dos deputados Tiririca e Enéas, entre outros – desbancar as campanhas eleitorais de Jânio Quadros. “O tostão contra o milhão”, “Jânio vem aí” e o mais conhecido, “varre, varre, vassourinha”, foram alguns dos slogans que permanecem como símbolos de seu jeito peculiar de viver a política. O pedido de renúncia – até hoje motivo de controvérsia entre historiadores e cientistas políticos na discussão sobre os reais objetivos de Jânio – foi entregue ao Congresso há 50 anos e iniciou a crise sucessória entre as correntes políticas do país, que três anos depois culminaria no golpe militar de 1964.

Os rumos que o Brasil tomaria caso Jânio não abdicasse de seu mandato poderiam ser bem diferentes e a democracia brasileira, que dava os primeiros passos, talvez não tivesse sido interrompida por mais de 20 anos. Como a história não admite suposições e já se conhecem os fatos que vieram depois da renúncia, o que se sobressai hoje são as críticas à decisão do ex-presidente. “Jânio foi responsável por um retrocesso sem precedentes para o país. Durante toda a década de 50, existiam rumores de que a democracia não teria futuro e sua renúncia serviu como um exemplo das correntes mais autoritárias nas críticas ao modelo que começava a ganhar força. Ele dá o motivo que os militares esperavam, apontando que o povo brasileiro não sabe votar”, explica João Pinto Furtado, do Departamento de História da UFMG.

Sempre mal vestido e despenteado, Jânio conseguiu desenvolver um estilo particular na oratória, que lhe rendeu uma ascensão rápida na carreira pública. Apenas sete anos depois de assumir uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo, Jânio se elegeria governador do estado, conquistando apoio entre as classes populares com promessas de moralizar a administração. Sua trajetória nos cargos públicos foi marcada também pela tentativa constante de construir uma política externa independente, contrariando interesses das grandes potências e buscando ampliar as relações do Brasil com os estados socialistas.

O jeito diferente de fazer campanha começou desde cedo, em um pleito para o Centro Acadêmico da Faculdade de Direito de São Paulo, aos 19 anos. Para convencer os colegas de que seria o melhor representante do público universitário, Jânio colocou um barril na entrada da escola e, com uma fita colada no chapéu, ficou sentado por vários dias pedindo voto. A estratégia deu certo, os colegas o elegeram líder estudantil. As promessas de redenção nacional por meio de ações enérgicas e muitas vezes pouco planejadas foram motivo de turbulências em suas passagens pelos cargos executivos. “Ele não tinha seriedade no trato com o eleitorado, mas tinha um carisma muito grande e uma retórica impressionante que possibilitou campanhas avassaladoras. No poder, suas gestões ficaram marcadas também pelo pouco domínio técnico e prioridade quase exclusiva no marketing político”, assinalou Furtado.

Renúncia

A mesma rapidez que o levou ao cargo máximo do Poder Executivo, marcou seu mandato na Presidência. Menos de sete meses depois de empossado, Jânio Quadros entrega uma carta onde apresentava a decisão de “caráter irrevogável” de deixar o Planalto. Em documento anexo ao pedido de renúncia, entregue no Ministério da Justiça, o ex-presidente explicou os motivos que o levaram a tomar a atitude inesperada. “Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, neste sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam e difamam”, diz a nota.

“Uma das explicações para sua decisão de abandonar a Presidência é que o ato seria uma tentativa simulada de conseguir adesão popular e que seus eleitores se mobilizassem pela sua volta, o que daria força em sua relação com o Congresso. Mas ele foi surpreendido pela agilidade dos parlamentares, que no mesmo dia aceitaram sua saída”, diz Furtado. Apesar da passagem rápida pela governo federal, o sucessor de Juscelino Kubitschek foi autor de leis polêmicas, como a proibição das brigas de galo, o uso de lança-perfume nos bailes de carnaval e até mesmo o de maiôs “cavados”, que seriam chamados anos depois de biquínis. As medidas inusitadas tinham como desculpa conseguir um “saneamento moral do país”, segundo o próprio Jânio.

Trajetória

1947
Eleito vereador em São Paulo

O número de votos que recebeu pelo PDC foi insuficiente para sua eleição, mas a suspensão do registro do PCB provocou a convocação dos suplentes

1950
Eleito deputado estadual

Apostando sempre em seu estilo particular de oratória, assume a liderança do PDC na Assembleia

1953
Eleito prefeito de São Paulo

Candidato pelo PDC, Jânio ganhou apoio também do PSB e outras legendas populares, vencendo com larga margem

1954
Eleito governador de São Paulo

Antes de completar o mandato de prefeito, Jânio deixa o cargo para se candidatar ao governo do estado

1961
Em 31 de janeiro , toma posse como Presidente da República. Na eleição, derrotou o general Lott e Adhemar de Barros
Em 18 de agosto, condecorou o então ministro da Economia de Cuba, Che Guevara, com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, provocando indignação dos conservadores. Em 25 de agosto, menos de sete meses depois de assumir o cargo, Jânio entrega a carta de renúncia ao Congresso Nacional

1964
Tem os direitos políticos cassados


1985
Eleito prefeito de São Paulo

No início da década de 1980, ingressou oficialmente no PTB e foi derrotado nas eleições para o governo do estado em 1982. Três anos depois, se elegeu prefeito, superando Fernando Henrique Cardoso, que alguns dias antes sentou na cadeira de prefeito para ser fotografado. Seu primeiro ato ao tomar posse, em janeiro de 1986, foi desinfetar a cadeira

1992
Faleceu em São Paulo

Jânio morreu aos 75 anos em São Paulo, depois de grave crise respiratória e circulatória