Na sessão de amanhã, a própria deputada terá de lutar pelo mandato. Ela terá 25 minutos para um pronunciamento em que, pela primeira vez, fará uma defesa pública. A deputada do DF vai tentar contestar a versão de que merece perder o cargo por ter recebido de Durval Barbosa, o delator da Operação Caixa de Pandora, dinheiro com origem em propina cobrada de empresas prestadoras de serviços de informática no Governo do Distrito Federal.
Jaqueline se preparou durante meses para esse momento. Assim que a gravação foi divulgada, em março, ela saiu de cena. Passou semanas sem aparecer na Câmara e enfrentou uma crise nervosa. A deputada foi orientada a reagir para salvar a carreira política. Uma cassação de mandato significará inelegibilidade até 2022 e mais uma derrota para o grupo político de Roriz, que vem acumulando perdas desde a Operação Aquarela em 2007, quando o então senador teve conversas suspeitas com o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB) Tarcísio Franklim de Moura reveladas publicamente. Roriz acabou renunciando ao mandato no Senado. Em seguida, perdeu influência no PMDB e teve a candidatura ao GDF vetada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em virtude da Lei da Ficha Limpa.
Para enfrentar os colegas em plenário, Jaqueline fez media training e tem trabalhado em uma tese para escapar da degola. A versão é de que a deputada não pode ser enquadrada em quebra de decoro por algo que aconteceu antes de ser eleita. Jaqueline conversou com vários deputados e não perde a oportunidade, seja no elevador da Câmara ou em reuniões políticas, de expor argumentos em sua defesa. Segundo o assessor de imprensa do grupo rorizista, o jornalista Paulo Fona, Jaqueline preparava do próprio punho no fim de semana o discurso que fará no plenário. “Jaqueline está segura de que, do ponto de vista jurídico e do regimento interno da Câmara, não há condições de ela sofrer qualquer punição por quebra de decoro, uma vez que na época do fato ainda não era deputada”, afirma Paulo Fona.
Além da tese jurídica, os aliados de Jaqueline sentem que estão em boa situação porque não existia em curso no fim de semana nenhum movimento pilotado por líderes partidários a favor da cassação. Entre os políticos que têm trabalhado pela aprovação do relatório de Carlos Sampaio estão o deputado Chico Alencar (PSol-RJ), parlamentar com discurso ético que representa o partido autor da representação contra Jaqueline, e o ex-deputado Laerte Bessa (PSC-DF), principal beneficiário da eventual derrocada da filha de Joaquim Roriz.
Ex-diretor da Polícia Civil do DF, Bessa é suplente de Jaqueline e herdará três anos e meio de mandato, caso o plenário decida pela pena máxima. Ele tem pedido o apoio de seu partido, o PSC, que tem apenas 19 deputados. Mas a legenda está dividida porque Roriz, também filiado ao PSC, tem reivindicado apoio para a filha. O ex-governador entrou na legenda em 2009 a convite da direção nacional e levou Bessa consigo. Mas o ex-deputado se ressente de uma suposta falta de ajuda de Roriz na campanha, que se empenhou diretamente na eleição de Jaqueline. Bessa foi o segundo mais votado na coligação, mas ficou na suplência.
Conta a favor de Jaqueline a falta de esforço de petistas, antigos adversários de Roriz no DF. O partido do governador Agnelo Queiroz não fechou posição em bloco contra nem a favor da cassação, o que é uma vantagem para ela. A bancada do PT vota unida em questões controversas e uma deliberação pela cassação já significaria 86 votos contra Jaqueline. O PMDB, que tem 80 representantes na Casa, também não fechou posição.
Quebra de decoro
Em confronto à tese de que um deputado não pode perder o mandato por algo que ocorreu antes da eleição, o relator do caso, Carlos Sampaio (PSDB-SP), sustenta que o escândalo veio à tona neste ano, já durante o exercício do cargo, o que pode configurar quebra de decoro. Além disso, segundo o tucano, o vídeo, caso tivesse aparecido antes, poderia ter influenciado negativamente na eleição de Jaqueline.