No fim de semana o PT nacional liberou coligações com o PSDB. Era só o que faltava para o partido optar pela repetição da aliança com os tucanos?
Na realidade, todo o eixo do congresso e da deliberação aponta e define que os inimigos do projeto político hoje liderado pela presidente Dilma (PT) são o PSDB, o DEM e o PPS. Nós aqui trabalhamos com esse eixo. Serão eleições municipais e o congresso referendou o que estava no estatuto: que quem decide sobre elas são os diretórios municipais. Dizer que está definido é um supremo desrespeito às bases partidárias que não foram ouvidas ainda. Fizemos um compromisso: nesta eleição não tem nada de cima para baixo e nenhum tipo de imposição em cima dos filiados de Belo Horizonte. Já vi fogo virar fumaça, mas fumaça virar fogo nunca na vida. E tem muita fumaça e pouco fogo.
Mas a resolução também abriu caminho para a união com o PSDB...
O que permite não determina. Não podemos ler o inverso. Ela permite em casos especiais e nós não queremos ser um caso especial. O PT de BH quer, acima de tudo, resgatar a identidade do PT e a identidade da base aliada.
A direção estadual e lideranças colocam como certa a aliança com Lacerda e o senhor continua defendendo a candidatura própria. Está isolado?
Isolado é quem está longe das bases e as bases estão participando ativamente.
O senhor é contra repetir essa aliança com Lacerda?
Sou a favor do diálogo com a base aliada, inclusive o PSB, sem o PSDB, o DEM e o PPS. A maior avaliação da aliança que tivemos do ponto de vista eleitoral foi o resultado de 2010, quando pela primeira vez em 16 anos o PT perdeu em BH no primeiro e no segundo turno. A Dilma perdeu para Marina Silva (PV) e depois para José Serra (PSDB). Isso nunca tinha acontecido. Entendemos que foi uma avaliação do eleitorado. Entendemos o seguinte: uma aliança com o PSDB, o DEM e o PPS só descaracteriza a identidade do PT. O PSDB, principalmente a partir da eleição da presidente Dilma, assumiu a liderança da oposição conservadora do país.
O que deu errado então foi a presença do PSDB?
A aliança de 2008 não se repete em 2012. As condições políticas são diferentes. Em 2008 tínhamos o Fernando (Pimentel) e o Aécio (Neves) e o PSDB não tinha assumido essa condição à direita.
O presidente do PT estadual, Reginaldo Lopes, defendeu a permanência do senhor como vice, mas já há outros quatro nomes colocados. Qual a chance de o senhor ser vice novamente?
A discussão de vice é precipitada, assim como a de prefeito. No momento adequado o partido vai discutir, a base vai discutir.
O senhor estava muito afinado em 2008 com o grupo do ministro Fernando Pimentel e com o presidente do diretório estadual, Reginaldo Lopes. Agora está em outro campo?
O Pimentel está com o mesmo discurso que eu. Disse no Estado de Minas que em 2012 o PT tem que enfrentar o governador Aécio e não tem como fazer aliança com o PSDB. Sobre o Reginaldo não comento. Acho que o dirigente partidário dá opinião do partido.
A presidente Dilma e o ex-presidente Lula já se manifestaram favoravelmente à participação do PSDB. Pode ser repetir uma imposição?
Estive pessoalmente com Dilma e ela nunca disse isso. Conversei com Lula e disse: ”Aqui vamos com calma". A preocupação nossa é com o partido. O PT de BH tem sofrido muito com os últimos processos eleitorais, sejam estaduais ou municipais, no caso de BH. Então, queremos unificar o partido. E vamos fazer aliança com a base. O caminho é esse.
Mas Lula disse ao EM que em time que está ganhando não se mexe.
A opinião do presidente Lula é muito importante, assim como a da Dilma, e de todas as grandes lideranças. Mas vamos ouvir a opinião de cada filiado do PT. A eleição é municipal e se tem uma coisa que o presidente Lula fez a vida inteira foi respeitar as instâncias partidárias. O partido vai decidir pensando o melhor para a cidade. Assim como não impomos nada a ninguém, não aceitamos imposição de quem quer que seja. O PT tem que ser respeitado na cidade.