Brasília – A defesa da criação do Estado palestino e a cobrança de uma solução coordenada para a crise econômica global, manifestações apresentadas nesta quarta-feira pela presidenta Dilma Rousseff no discurso da 66ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), indicam que a política externa brasileira definiu prioridades. A avaliação é do professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Antonio Jorge Ramalho.
Segundo o professor, a promoção dos direitos humanos e o fortalecimento de estruturas globais de decisão como o G20, em que os países emergentes têm mais poder do que nas organizações tradicionais, devem ser os eixos principais da política externa do governo Dilma. “Não houve mudança de rumo em relação à política externa promovida nos últimos anos. Na verdade, passou a haver foi mais foco nos dois aspectos: a adoção de estruturas globais mais implementativas e a ênfase na questão dos direitos humanos”, diz Ramalho.
Em relação à defesa do Estado palestino, o especialista lembra que a criação havia sido defendida por Lula. “No ano passado, o Brasil e outros países da Unasul [União de Nações Sul Americanas] tinham tomado a decisão de defender o Estado palestino”, recorda. “A diferença é que, agora, o discurso está mais objetivo, menos baseado em generalidades.”
A nova postura na política externa, destaca o professor, pôde ser percebida com a eleição de José Graziano para a direção-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), ressalta o professor, é um exemplo de que a diplomacia brasileira passou a concentrar esforços em objetivos específicos. “Na verdade, as diretrizes do chanceler Antonio Patriota [ministro das Relações Exteriores] estão mais explicitadas. Hoje, é mais fácil saber quais são as batalhas em que o governo brasileiro vai se engajar”.
Em relação às gestões na economia internacional, Ramalho avalia que as iniciativas tomadas até agora pelo governo Dilma não trouxeram surpresas. “O Brasil tem reafirmado a necessidade de que os países mais avançados trabalhem no sentido de resolver seus problemas, sem transferir custo para economias emergentes do ajuste econômico”, declara.
Para ele, o pedido para que os países da Organização Mundial do Comércio (OMC) discutam a criação de mecanismos para impedir a desvalorização artificial de moedas para forçar exportações a emergentes é um exemplo de que a diplomacia brasileira está disposta a buscar soluções negociadas, sem recorrer a rompantes.