Jornal Estado de Minas

Criação de novos câmpus universitários gera polêmica no semiárido mineiro

Prefeitos e lideranças políticas se mobilizam para evitar construção de dois complexos universitários a 700km da sede da Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

Alessandra Mello


A criação de dois câmpus da Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), implantada no início do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem provocado polêmica na região do semiárido mineiro, onde a instituição está instalada. É que o Ministério da Educação quer expandir a universidade para as cidades de Unaí, no Noroeste de Minas, quase divisa com o Distrito Federal, e Janaúba, no Norte do estado. Lideranças e movimentos sociais da região se organizam para tentar barrar a ampliação da universidade para fora da região, defendendo que o investimento seja revertido para os dois câmpus já existentes, em Diamantina e Teófilo Otoni.

Em seminário na Câmara dos Deputados no dia 13 organizado para discutir o desenvolvimento sustentável dos vales do Jequitinhonha e Mucuri, prefeitos aprovaram documento em que pedem o asfaltamento da BR-367, a recuperação da Bacia do Rio Jequitinhonha e a expansão da universidade na própria região. O Conselho da UFVJM deveria ter se reunido em setembro para decidir sobre o caso, mas devido à repercussão dos novos câmpus, adiou para 7 de outubro.


A criação de câmpus no Brasil foi anunciada pela presidente Dilma Rousseff em agosto e pegou de surpresa até a UFVJM, já que o projeto que criou a instituição previa novas unidades, mas todas nos vales. Esta deve ser a última expansão de universidade brasileira feita por determinação do MEC. A partir de agora, a ampliação vai ser feita baseada em projetos das próprias instituições. O reitor da UFVJM, Pedro Angelo Almeida Abreu, disse que a universidade, apesar de não ter requerido, foi “aquinhoada” com os câmpus. “Surpresas à parte, o MEC ofereceu a tutela destes dois Câmpus à UFVJM no pressuposto de sermos a única Ifes (Instituição Federal de Ensino Superior) com sede na metade norte do Estado e, sobretudo, para tornar esta universidade mais robusta”, afirma o reitor. Segundo ele, se esses câmpus não forem incorporados pela instituição, serão por outra universidade estabelecida no estado. A decisão tem de passar pelo conselho formado majoritariamente por representantes da universidade. Uma única vaga pertence à comunidade, representada no conselho pelo Fórum de Desenvolvimento dos Vales, cujo indicado é um dos coordenadores da Cáritas (entidade ligada à Igreja Católica) de Araçuaí, José Nelson. “O Vale nunca é escutado”, reclamou José Nelson.


Nome

O reitor propõe a mudança do nome da instituição para Universidade Juscelino Kubitschek, como uma forma de justificar a incorporação de novas regiões. “Nessa perspectiva, dois novos territórios serão motivo de abordagem pela UFVJM: o Norte e o Noroeste de Minas Gerais. Motiva uma nova denominação à UFVJM?”, afirmou. Cada câmpus deve acolher 2,5 mil estudantes em sete cursos de graduação. As aulas devem começar em 2014. José Nelson rejeita a mudança do nome e aposta que o conselho não vai aceitar a expansão para outras regiões. Segundo ele, a Univale ainda carece de melhoria em infraestrutura física e de mais cursos. Para ele, antes da expansão, o MEC e a própria universidade deveriam investir na melhoria da instituição.


Para o prefeito de Virgem da Lapa, Averaldo Moreira Martins (PT), no Médio Jequitinhonha, um dos signatários do documento que pede a expansão dentro do própio vale, a criação dos câmpus  cerca de 700 quilômetros da sede da universidade é irreversível. “A expansão da universidade não tem retorno. Vai acontecer de qualquer jeito. A nossa prioridade é que pelo menos o vale seja contemplado com mais um câmpus”, defendeu. O vereador de Itaobim, Jean Freire (PT), critica: “Soa esquisito um câmpus fora do vale. Queremos sim a extensão da universidade, mas para o miolo dovVale”. Na campanha de 2010 ele entregou a Dilma um manifesto pela ampliação. “A vida inteira falam da miséria do vale, mas na hora das ações não se  lembram disso”, afirmou.