A presidente Dilma Rousseff inicia hoje uma viagem de cinco dias por três países que será marcada não somente pelo forte peso político e econômico, mas também, e sobretudo, pelo conteúdo emocional. Em seguida à Cúpula Brasil-União Europeia, entre amanhã e terça-feira, em Bruxelas, na Bélgica, e antes da visita à Turquia, na sexta, a presidente passará pela Bulgária, terra natal do pai, Petar Roussev.
Além de cumprir uma agenda de chefe de Estado, como nos demais países, a chegada à Bulgária será para Dilma a realização de um objetivo pessoal. Quando era ministra do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela planejou duas viagens para conhecer o país, mas nunca chegou lá. A tentativa mais recente, em 2007, foi cancelada assim que recebeu a notícia da morte de seu meio-irmão, Luben-Kamen. Ela chegou a se corresponder com ele, mas nunca conseguiu encontrá-lo.
Os familiares de Dilma que restam na Bulgária não são tão próximos dela, mas aguardam com ansiedade a visita da presidente. Não só eles, aliás. No mais pobre integrante da União Europeia, a história da presidente brasileira é vista como um antídoto à auto-estima em baixa. Dilma é filha de um migrante que construiu uma história de sucesso. Fugiu da miséria e da perseguição que massacrou a maioria dos búlgaros nas guerras e depois no regime autoritário de orientação comunista. Com DNA búlgaro, Dilma comanda hoje um país com Produto Interno Bruto (PIB) que, mesmo em termos nominais, já supera o de várias economias europeias, como a Espanha e a Itália. Dentro de alguns anos, ultrapassará também França e Reino Unido, segundo estimativas. Hoje, o contraste entre a situação econômica do Brasil e a da Europa dará o tom da cúpula, um encontro que ocorre todos os anos com sede alternada.
Independentemente dos resultados concretos da viagem de Dilma e dos discursos, o simbolismo do roteiro já está dado.
Recado do primo Em dezembro de 2010, Jzonu Kornajev procurou o embaixador brasileiro em Sofia para que traduzisse e enviasse mensagem à sua prima Dilma Rousseff antes que ela tomasse posse na Presidência. “Escrevi a Dilma uma saudação e o desejo de boa sorte. Depois lhe disse que ela deve ser honesta como foi meu avô, que era também avô do pai dela”, contou Kornajev ontem no fim da tarde, ao receber a reportagem do Estado de Minas no apartamento simples e aconchegante em um bairro de classe média da capital búlgara.
Ao receber da reportagem uma foto de Dilma, Kornajev pede desculpas por chamar a presidente pelo prenome. “É que eu sinto mesmo que ela é da família”, explica, sem saber que no Brasil não há restrições a esse tratamento informal. Aliás, o preferido pela maioria dos políticos. Também por intermédio da embaixada brasileira, ele enviou a árvore genealógica da família. E mostra uma cópia, também feita à mão, ao argumentar que é o parente mais próximo de Dilma por parte de pai.
Aos 84 anos, Kornajev e a mulher, Svetla, ainda não sabem se vão se encontrar com a presidente. A agenda oficial reserva encontro com familiares em Gabrovo, cidade de 60 mil habitantes onde nasceu o pai de Dilma, a 215 quilômetros da capital búlgara.
Em Cabrovo, Dilma será recebida pela viúva de um primo distante. Em Sofia, mora a maior parte de seus parentes, incluindo Ralitsa Neguentsova, que preside a instituição responsável por todas as eleições na Bulgária.
Kornajev tinha dois anos em 1929, quando Pedro Rousseff, nascido Petar Roussev, deixou o país para nunca mais voltar. Primeiro, o pai de Dilma foi para a França, onde o sobrenome passou por uma adaptação linguística. Em meados da década de 1940, depois de viver na Argentina, ele se instalou no Brasil. Desta vez, o prenonome é que se adaptou ao novo país. O pai de Dilma morreu em 1971, sem jamais regressar à Bulgária. Ele não deixou para trás somente a terra natal, mas também a primeira mulher, grávida. Nunca conheceu o filho, Luben-Kamen Roussev, meio irmão de Dilma.